Meus caros, da última vez que planejei postar este relato no
blog, acabei por me desviar para outro assunto pertinente, mas que não era meu
intento inicial, e que eu sabia que mais cedo ou mais tarde deveria postar. É
muito difícil relatar por onde tudo começou, a experiência toda é bastante
longa, bem como o que se desenrolou a partir dela. Achei apropriado dividir a experiência
em partes, caso alguém prefira não ler tudo de uma só vez. Vamos ao que
interessa...
Era uma tarde comum de Janeiro. O espírito de renovação de
um novo ano, especialmente o ano após 2012, com tantos portais que se abriram e
energias renovadas circulando. Dirigi até a biblioteca central da faculdade em
que estudo para adiantar um trabalho de pesquisa que tenho desenvolvido desde
que entrei. É esse trabalho que mencionei na experiência anterior para minhas
amigas vacas rsrs... Antes de ingressar na faculdade sabia intuitivamente que
havia um trabalho a desenvolver, e hoje sei do que se trata. Quanto mais
impecável eu for, menos tempo ficarei aqui, e bem, não é bem um lugar que eu
goste muito. De qualquer forma, o trabalho em si é muito interessante, e de
certa forma propõe uma visão xamânica da Ciência, em especial a Economia, e faz
com que ela olhe para si mesma e veja sua natureza e as consequências de seus
atos. Na biblioteca uma egrégora juvenil tomava conta do ar. Poucas pessoas,
todas concentradas em seus trabalhos, empenhadas e motivadas para um novo ano.
Passei toda a tarde debruçada sobre estantes e livros, tentando em poucas
leituras saber quais seriam úteis ou inúteis para meu trabalho. No meio da pesquisa,
porém, deparo-me com um título provocativo: “Evite ser Utilizado”, de W. Wayne.
Estava em espanhol, e não sei falar uma palavra de Espanhol, mas o linguajar
parecia fácil, e eu estava muito motivada a ser um livro que nos ensinava a “adotar
uma postura anti-vítima” perante a vida e ser feliz... Eu já havia lido sobre
isso antes, com outro nome: deixar a auto-piedade. De fato era um livro quase
tolteca em seu conteúdo, apesar do autor ser um americano aparentemente sem
relações com o xamanismo. O Espírito tem maneiras inusitadas de conversar
conosco...
Saindo da biblioteca central fiquei mais algumas horas na
biblioteca setorial e depois parti. A ideia era fazer umas compras comuns para
casa, mais especificamente água, sal grosso e alguma fruta. Algo no mínimo
curioso: as três coisas mais vitais à vida depois do ar. No caminho, porém,
encontro um ex-namorado correndo no meio da rua...
- Atrasado? – perguntei abaixando o vidro, já sabendo que a
resposta seria que sim. – Entra aí.
Dei uma carona até seu destino final, que era caminho pra
mim também, enquanto conversávamos. Segundos após ele descer do carro, meu
companheiro atual me liga. “To dirigindo. Depois te ligo.”. O filhadaputa tem
uma Intuição da porra. Intrigada com tudo aquilo, segui tranquila até meu
supermercado favorito (porque lá sempre tem uns doces maravilhosos rsrs). Chegando lá, pela primeira vez encontro o
estacionamento lotado. Lembrei-me dos tempos em que apenas a ideia de um
estacionamento lotado me fazia suar frio. Não me permiti ficar nervosa. Segui
minha intuição e fui a única em vários minutos a obter uma vaga. Apertada, mas
uma vaga. Tentando não ficar nervosa nem lembrar de traumas passados,
estacionei o carro na melhor forma possível e comemorei a ausência de arranhões
e batidas. Dessa vez, infelizmente dessa vez não tinha o doce que eu gostava no
supermercado, e acabei comprando as tríade essencial: água, sal e alimento. Na
fila, conversava com mais três mulheres de classe média alta sobre banalidades.
De repente a conversa tomou um tom preconceituoso em relação às pessoas de
classe mais baixa, e pasmem – às mulheres. Calei-me antes que proferisse alguma
palavra que não fosse impecável de minha parte, e fiquei muito reflexiva sobre
escravidão, liberdade... Elas alegavam ser uma pena que as faculdade
particulares hoje em dia aceitassem “qualquer analfabeto por aí”. Parecia que
estávamos falando sobre escravos, sobre senzalas e senhores. Sobre mulheres “de
honra” e “depravadas”... Refleti, com ajuda do livro que peguei da biblioteca,
e concluí que a ausência de liberdade está muito mais próxima de nós do que
pensamos, mesmo quando ‘esquecemos’ dos assuntos sobre Mente Forânea, e
derivados.
Chegando em casa, bebi muita água – o que não é de costume –
e fui direto ao livro sobre liberdade. Sabia que ele influenciaria diretamente
minha pesquisa. Não através de citações regulares, mas mexeria com a minha
própria energia, e isso mexeria sem dúvida com a pesquisa. Devorei os 6
primeiros capítulos, assustada com a praticidade que o livro colocava questões
tão profundas. O autor conseguia trazer a essência da Liberdade Total para os
assuntos mais banais como uma ligação de familiares, ou escolhas rotineiras.
Não parei nem pra comer. Quando encerrei meu jantar, com o
livro do lado, porém, senti dificuldade em continuar a leitura... Meu cérebro
parecia não funcionar mais para a leitura e de repente fiquei consciente da
energia da casa, seus entornos e da minha própria. Eu estava de repente em atenção
intensificada.
A INVASÃO
Havia algum tipo de ser, aparentemente inorgânico, situado à
minha diagonal traseira-esquerda, me olhava diretamente. Já havia lidado com
esse tipo de invasão antes, e apenas fiz o padrão.
- Quero que você vá embora – disse em linguagem de bloco.
Mas ele não se moveu. Achei aquilo estranho. Geralmente
funcionava, eles no mínimo mudavam de lugar...
- Vá embora! – disse e tentei retomar a leitura.
Mas ele se aproximou ainda mais. E não tinha uma energia
boa. Deixei então que meu animal de poder tomasse conta da situação e rugisse
para ele. Ele desapareceu, para reaparecer no mesmo lugar 2 segundos depois.
Aquilo começou a ficar perturbador. Reconheci aquela energia
como sendo algo hostil que aparecia com certa frequência em minha casa, e que
eu não gostava nada... Lembrei-me do sal grosso, e espalhei sal grosso pelo
chão. Não adiantou. O Sal grosso sugou boa parte de sua energia, mas ele
permaneceu no mesmo lugar, me afrontando. Seguiu-se então uma maratona bruxesca
de exorcismo e expulsão. Mantras, músicas, incensos, orações, sal grosso,
danças, passes mágicos, velas... E nada. Ele parecia fazer cada vez mais
questão de ficar. Se fosse só isso, ainda tudo bem... Mas ele resolveu trazer
amiguinhos.
Senti então que o sal grosso estava atuando ironicamente
como um meio de ‘ancorá-los’ ainda mais. Sem olhar para o sal grosso, varri-o
do chão e joguei-o pela privada e dei descarga. Porém a energia da casa, em
especial do meu quarto, parecia piorar cada vez mais... Uma morbidez imensa tomava
conta da energia, um peso... Já conhecido... Voladores. Eles faziam uma festa
em casa, junto com outros bichos que chegavam a ser difíceis da minha atenção sonhadora
conseguir ‘visualizar’ de maneira concreta de tão esquisitos que eram... Por
trás daquilo tudo, o primeiro continuava ali parado, imóvel. A centímetros da
porta do quarto.
Andei até a sala, mas quando dei as costas para eles, um dos
bichos estranhos lançou fios de dentro dele mesmo com triângulos que pareciam
pontas de lança nas pontas. Eram sete pontas. Cada uma foi atirada a um chákra
meu.
O HORROR
No momento em que senti aquelas lanças soube que elas eram
doenças, energias negativas passíveis de serem somatizadas, desequilíbrios,
coisas muito ruins, especialmente por ter sido tamanha invasão de meu espaço:
de repente um outro ser interferir na energia vital do outro... Aquilo era
muito grave!
Apelei mais uma vez para meus animais de poder. Vi surgir
para mim a imagem de um Dragão das Neves, todo Branco, guardião do Fogo Frio.
Quando as coisas ficam muito ruins, ele sempre consegue solucioná-las com um
esforço mínimo. Primeiro ele tratou de congelar ponta por ponta dentro do meu
corpo, depois disse-me:
- Vou agora retirar essas pontas. Se prepare.
Naquela hora eu pensei em colocar um mantra específico para
tocar, o Gayatri Mantra. Um mantra poderoso, que nos conecta com as esferas
mais superiores de nós mesmos. Com ele eu me sentia fazendo um esforço oposto à
energia negativa que me fazia mal. Conforme cantava o mantra, o Dragão
arrancava as lanças de mim, e em todas elas meus pulmões involuntriamente se
enchiam de ar, como se eu tivesse com muita dor – apesar de não ser uma dor
física. Um por um ele foi retirando aquelas pontas doloridas. Às vezes, ele
retirava algumas, e a primeira voltava a se encaixar na mesma hora, de forma de
tínhamos que voltar tudo. Chegando na última, finalmente, no chákra coronário, eu
já estava trêmula, ele olhou para mim e disse em linguagem de bloco:
- Prepare-se. Você deve se desinstalar da Mente Forânea
agora. Prepare-se para o Abismo. Se você o ver, atire-se ou você poderá morrer!
Você entendeu?
- Sim – disse tremendo.
Eu soube que deveria repetir três vezes o mantra o final da
terceira, ele tiraria a ponta. No meio da segunda vez que repeti o mantra, eu
já não conseguia pronunciá-lo em voz alta, apenas em minha mente. Eu tinha um
tremor que era constante, leve, e homogêneo pelo corpo. A sensação era de um
ataque cardíaco, mas sabia que se checasse meus batimentos, eles estariam
normais ou baixos. No final do terceiro mantra, houve uma grande escuridão na
minha vista, eu não mais senti meu corpo físico. E senti tudo girar ao meu
redor. Eu tinha uma sensação de queda que durou milésimos de segundo.
No momento seguinte eu estava reabrindo os olhos e sentia
que muita coisa tinha se passado no último segundo, mas que eu não era capaz de
lembrar, por mais que tentasse. Meu corpo sentia a energia e a via claramente
se quisesse. Eu podia escolher ver as teias de energia e como as veria. Tive
uma preferência pela maneira a qual já estava habituada do Sonhar e de momentos
de silêncio no Tonal. Sentia meu útero participando ativamente do processo, e
soube que aquele dia, a fresta entre os mundos estaria no auge de sua abertura
para mim. Sentia que se não me movesse, correria perigo. Eu já não mais via ou
sentia o Dragão ou nenhuma outra energia além daquelas coisas sinsitras e
alienígenas comigo ali. Sentia-me confiante, mesmo apesar do tremor e da
confusão mental.
Sem questionar meus impulsos, comecei a mover os pés, a
andar... A recuperar o domínio do corpo físico, ainda com a percepção bastante
alterada. Eu então percorri os cômodos da casa, observando com detalhes todas
as energias ali presentes. Vozes apareciam em minha mente dando-me ordens que eu
não queria seguir, como se só estivessem lá para me confundir. Comecei
instintivamente um processo de selar a energia da casa. Comecei isolando o
quarto do resto, passei pela sala, suando pra caramba, imaginava paredes de
isolamento energético nas paredes físicas, separando as energias do meu
apartamento das do vizinho – do lado, de cima, de baixo. Selava-as com símbolos
que apareciam por si só. Às vezes as paredes eram de água, outras de ar, outras
de terra, outras apenas de luzes coloridas. Deixei a porta de entrada por
último, pois sabia que por ela entravam sempre energias muito ruins, vindas dos
vizinhos. Soube que não estar perto do solo também me enfraquecia durante esses
ataques. Com os pés na Terra, eu estava sempre mais segura. Na última parte do
ritual, intentei criar uma parede energética na porta da entrada. Um exército
de voladores esmurravam a porta do outro lado querendo entrar. Eu ouvia os
barulhos “PAH! PAH! PAH!” do lado de dentro como se fosse algo físico, e sentia
a porta se dobrando pela pressão. Antes de selar a porta, porém, percebi que
não iria conseguir fazer aquilo daquela forma... Eu tinha um pavor, um tremor,
que vinha do fundo dos ossos, e sacudia toda minha energia. Ainda assim não era
um medo normal, era um medo energético, um medo de sobrevivência, sob algum controle,
e que mais ajudava do que atrapalhava.
Instintivamente comecei a fazer algo que agora me parece
engraçado: Ho’oponopono com os Voladores. Dizia a eles “Sinto muito, me perdoa,
eu te amo, sou grato”... Aquilo de repente acabou com a egrégora de Guerra que
havia se instalado ali. Fazendo o Ho’oponopono ocorreu-me uma ideia que não
havia tido até aquele momento: pedir ajuda! Tão simples... A qualquer um, de
qualquer lugar, qualquer coisa que pudesse e quisesse ajudar! Antes mesmo de terminar
de elaborar o pensamento, senti um clarão forte descer do céu até acima de mim.
Era uma energia tão poderosa, iluminada, branca e serena que sua mera presença
me deixou emocionada. Com aquele Ser ali, eu sentia finalmente tinha chances de
estar em segurança. Era uma emoção de alívio, de ter sido ouvida em meu grito
de ajuda ao Universo. Eu fui muito grata àquela energia. Ela fechou a porta,
percorreu comigo lado a lado a casa mais uma vez, levou-me até o espaço em que
fazia meus rituais, e disse-me:
- Fique aqui e agradeça às suas Divindades.
Eu ajoelhei-me com uma emoção muito difícil de descrever, e
chorando agradeci à primeira coisa que me veio à mente: à Grande Mãe. Naquele
profundo desespero, era como se um impulso de veneração tivesse tomado conta de
mim. Não como um servo que se ajoelha perante um mestre, mas como um Ser tão
mortal quanto qualquer outro que agradece do fundo de sua Alma ter sua energia
salva por algo maior. Aquele senso de Gratidão tomou conta de mim, misturado
com um alívio profundo, ainda que meu corpo ainda tremesse. Quando finalmente
me acalmei, aquele ser iluminado voltou a mim e me disse:
- Venha, vamos preparar a sala para você dormir.
Dormir? Pensava eu... Ela deve ter visto meu estado. Eu
estava exausta, nos resquícios de minha energia, confusa, desorientada, sem
entender nada do que estava acontecendo...
- Não tente entender nada... – disse aquele Ser lendo meus
pensamentos – Tudo vai se explicar mais tarde. Agora não é hora de entender
nada. Você precisa descansar. Pela manhã tudo vai acabar.
Mais outras duas energias análogas a ela apareceram na sala.
Elas limparam todo o ambiente, e me indicaram como eu deveria dormir na
poltrona. Eu estava com os nervos no limite. Eu precisava ser implacável ou não
teria chances de ver o amanhecer. Eu sabia dessa verdade com a mesma certeza de
que sabia da verdade de que eu estava viva e respirando. Cada pensamento meu
era calculado, controlado. Qualquer deslize poderia fazer tudo se desequilibrar
novamente. Eu estava no auge na minha tensão. Mas precisava dormir. Estava
exausta. Meus músculos doíam pelo longo período tensionados e eu não conseguia
relaxa-los.
- Coloque esse mantra para tocar durante toda a noite –
disse o Ser novamente – acenda todas as luzes da casa. Todas. Sem exceção.
Feche as cortinas, e durma. Vc precisa dormir. Amanhã procuraremos casas novas
para você ir morar. Seu tempo aqui acabou.
Fiz o que ela recomendou. Tentei falar com meu companheiro,
mas não conseguia por nada ter sinal. Por dentro, eu sabia que estava
incomunicável com qualquer pessoa. Olhei as horas. Eu já estava naquilo há
cerca de 4 horas seguidas. Controlei minha respiração, mas a tensão não passou,
nem os tremores. Conforme foram muitas as horas tremendo, os músculos começaram
a doer de exaustão, dando pontadas que pareciam que iam se rasgar. Eu suava
frio.
Minha própria mente me assombrava com pensamentos, sons e
imagens de horror conforme eu ia entrando nos estados de vigília. Eu acordava
várias vezes assustada. Aquele Ser iluminado permaneceu comigo por todo o
tempo. Os pensamentos eram traiçoeiros, paranóicos. Eu não tinha pensamentos de
auto-piedade mais naquele momento. Eu sabia que deveria ser implacável para
sobrevier e confiar totalmente em minha Intuição e minha energia. Não havia
nenhum indício físico do que estava acontecendo. Mas minha energia sabia bem o
que ocorria e de repente sentia que minha própria vida dependia daquela
habilidade que eu havia desenvolvido durante os anos, mas que apenas há um ano
eu havia tomado consciência dela.
A RASTEIRA DA MENTE
Após meia hora sem poder nem mudar de posição na poltrona,
dei meu grito de guerra. “Estou em minha própria casa”, pensava eu, “Vou dormir
na mina cama, onde é mais gostoso. E os incomodados que se retirem de lá!”.
Julguei que estava sendo muito guerreira naquele momento, reconquistando meu
território.
Deitei-me em minha cama, consciente de todos os seres
horrorosos ali. Inclusive deitei ao lado de um deles, que estava deitado nela,
do outro lado. Logo eles começaram a se aglomerar ao meu redor. Eu não me
importava. A sensação do tremor e do medo porém foi ficando cada vez mais
perturbadora. Até que eu vi a um palmo de distância do meu rosto, uma cabeça
monstruosa fazendo uma careta horrenda olhando para mim. Eu via esse rosto
horrível não importava onde eu olhasse – ou mesmo se fechasse os olhos.
Soube então em minha energia que aquilo tinha sido uma
péssima ideia...
Abri os olhos e haviam tantos deles ao meu redor que a
própria luz demorou a ficar clara como uma luz. Levantei-me e fui embora. “Idéia
de merda”, pensei...
Olhei para a desconfortável poltrona e um pensamento me veio
“Busque seu travesseiro. Ele tem energia sua demais para ficar lá.”. Voltei
para buscá-lo. Quando cheguei na entrada no quarto, porém, meu corpo parou de
súbito. Eu sentia que estava cara a cara, centímetros de distância de algum ser
muito bizarro que olhava hostil para mim. Atrás dele uma sombra sinistra e
impessoal, que me gelou a espinha. Arregalei os olhos. E soube do fundo dos
meus músculos: “Não entro mais aí NEM FODENDO.” Dei as costas, e como um animal
arrependido deitei-me de volta nos braços daquele ser iluminado. Eu estava
ofegante.
- Qualé – dizia ela por linguagem de bloco – Saber quando
não se pode vencer também faz parte do treinamento de um guerreiro. Não faça
mais isso!
- Não, não vou fazer, pode ter certeza... – dizia como um
cachorrinho traumatizado, com o rabinho entre as pernas.
Tentei mais várias vezes ligar para meu companheiro, mas a
sensação de estar isolada de tudo e de todos ficou ainda mais forte que antes.
- Durma... – dizia-me a voz – Depois tudo será explicado.
Agora não é hora para respostas.
Ela então colocou as mãos nas laterais da minha cabeça, como
se quisesse purificar mina mente, e assim ficou toda a noite.
O NÃO-SONO
Eu acordava várias vezes durante a noite, assustada com
imagens assustadoras das quais não me lembrava quando acordava. Parecia que
passavam-se dias no Sonhar, e eu acordava sem lembrar de nada – 15 minutos
depois. Isso se repetiu até que eu olhei de novo no relógio do celular. Eram 5
da manhã! Finalmente... Logo amanheceria... eu poderia dormir em paz!
Apaguei e despertei algum tempo depois. Eram 4:15 da manhã.
Eu tinha sonhado que estava amanhecendo para poder dormir! Os monstros, porém,
pareciam cada vez mais fracos... O Ser continuava ali, silencioso. Respirei
fundo. Sentia-me como um animal perdido, isolado em um ambiente hostil, e minha
única meta era sobreviver até o amanhecer. Mais nada. Naquele momento aceitei
meu destino, conforme algumas lágrimas escorreram. Pensava em minhas pessoas
queridas, no calor do abraço de meu companheiro, no cheiro agradável e selvagem
que tinha minha cachorrinha, ou mesmo em momentos prazerosos de solidão,
momentos felizes e especiais da minha vida, tão simples... Onde não haviam os
horrores pelos quais eu estava passando naquela noite. Mesmo agora, ao narrar
isso, seria inútil tentar conter as lágrimas. Naquele momento, porém, eu não
pensava no quanto eu estava numa situação ruim, pois sabia que aquilo era como
uma leve demonstração de um Universo predador em que vivemos... Mas sim sentia
e via aqueles momentos como momentos mágicos, raros, abençoados, verdadeiras
bênçãos na vida! Via o quanto o mundo em que vivemos é protegido, é mágico, é
belo, abençoado! Tudo que podia fazer era ser grata a aqueles momentos lindos que
já vivi e contentar-me com a minha condição naquele momento, ameaçada, largada
aos meus próprios recursos cercada por criaturas que esperavam apenas um
pequeno deslize da minha mente para acabarem comigo. A diferença era chocante,
brutal. Imersa naquela gratidão, eu consegui aliviar finalmente minha tensão e
adormecer. Lembro-me de a última imagem que vi em estado hipnagógico foi de um
Cisne nadando suavemente por águas cristalinas, olhando para mim. Ele nadou,
nadou, e nadou... Longos minutos, talvez horas... E eu acompanhava-o com meus
olhos... Até que a escuridão tomou conta.
O COMEÇO DO FIM
Acordei, mas não abri os olhos. Era o final da madrugada. Eu
não podia ver lá fora, mas sabia que estava quase amanhecendo. Senti os
monstros no quarto ficarem mais difusos, alguns indo embora, afastados pelo
amanhecer, enquanto outros relutavam em ficar o máximo que conseguiam. Porém,
era uma negatividade mínima em relação aos momentos de terror anteriores, e a
tendência finalmente era melhorar...
Abri os olhos. Eu estava viva. Mas não ousava me mexer. Não
precisava ver que horas eram. Soube que estava acabando. Eu já tinha aceitado
meu destino de ser como uma refugiada naquela poltrona. Esperei sem me mexer
ali por talvez 40 minutos. Me recordava de tudo que tinha acontecido, mas
principalmente da lição que tive do quanto estamos seguros no tonal... O quanto
aqui é realmente uma ilha! No meio de um Mar Escuro implacável e impessoal...
Deixava a gratidão e a aceitação tomarem conta de mim. Mais uma vez agradeci
àquele Ser que me ajudou e às Divindidades, como ela mesma sugeriu.
Num dado momento, senti o amanhecer romper o céu. Os
monstrinhos no meu quarto que ficaram, pareciam ficar “inativos” durante o dia,
outros, foram embora. Espreguicei-me. Sabia que aqueles segundos eram a virada
do jogo, em que eu finalmente poderia me sentir segura de novo. Mas não sabia
se o mesmo pesadelo aconteceria de novo na noite seguinte. Fiquei mais um tempo
na poltrona. Estava exausta, porém renovada, com um alívio de saber que provavelmente
eu sobreviveria até o raiar do dia.
Levantei-me da poltrona. O corpo e mente cansados. Abri as
cortinas da janela da sala, e um belíssimo céu rosado me sorriu a manhã. Mas antes
que eu pudesse sorrir, um Carcará saiu voando de alguma das janelas dos andares
acima, ficando estável bem na altura da minha janela, e seguiu voando para
Norte. Uma estranha e fortíssima emoção tomou conta de mim ao ver aquele
Carcará... Eu sentia como se aquilo tivesse sido o próprio Universo dizendo: “Pronto...
Acabou, agora.” Abri as janelas, inspirei forte o Ar puro, mas mesmo com os
olhos fechados, ainda podia ver o Carcará voando para Norte. Ele voou, voou,
até que não estava mais no tonal, e na segunda atenção, vi-o pousar nos braços
de um homem. E uma voz familiar me dizer:
- Parabéns, minha cara... Você sobreviveu... Meus parabéns.
A LIÇÃO
Era um xamã já conhecido de meus Sonhares dormindo e
acordada. Que muito já havia me ensinado, mas que havia se afastado de mim para
que eu pudesse por em prática os ensinamentos passados. Agora ele voltava... E
com boas notícias.
- Era tudo um teste seu? – perguntei eu revoltada.
- Oh não, não, minha cara... – disse ele, fazendo uma suave
carícia no Carcará – Foi um teste da
Águia pra você. Ou você passava ou você morria.
- Acabou?
- Acabou.
Naquele momento desabei a chorar. Chorava de alegria, de
alívio, de sobrevivência. Um choro energético, exausto e honesto que eu mesma não
sabia explicar o porquê dele ser tão intenso e repentino.
- O que foi tudo isso? – perguntei.
- “Tudo” isso? Foi tudo tão suave, minha cara...rsrs... Isso
tudo foi o Intento, lhe testando...
- Me testando?
- Sim. Muitas vezes ao longo de sua caminhada o Intento lhe
testará os nervos.
- Testará os nervos?
- Sim, claro... É muito importante para lhe fortalecer a
energia... Não reparou que não importava o que fizesse aqueles bixões
simplesmente não iam embora?
- Eu estranhei... Eu tive medo... Eu tive bastante medo.
- Eu sei... Mas você foi muito guerreira até o fim. Viu que
o Carcará rompeu voo assim que abriste as cortinas no Infinito? – ele se
referia à janela da sala. Na segunda atenção, foi-me dito que aquelas eram as
verdadeiras portas da casa para o Infinito, e não a porta de entrada.
- Sim... – e despenco a chorar novamente.
- Aquilo foi o Intento lhe presentiando, lhe dizendo
“pronto... já está tudo bem... acabou”. Esse teste é importante para que a
Águia possa sempre saber onde pode esperar comida. É importante para que ela
saiba de onde pode esperar frutos ou não. E assim traçar suas estratégias de
caça....
- Mas ela não sempre sabe tudo?
- A Águia não é Deus, minha querida... – disse ele rindo num
tom irônico. – Não, a Águia nem sempre sabe tudo porque nós todos temos Livre
Arbítrio e somos escravos das consequências...
Então cabe a nós decidirmos na hora final encararmos ou não nossos
medos, sermos ou não impecáveis, sermos ou não guerreiros, irmos ou ficarmos. E
para que ela possa saber, é importante testar, oras.
- Era tudo uma simulação?
- Oh não, não. Era tudo muitíssimo real. Você poderia
inclusive ter morrido facilmente com tudo isso. Na verdade, você quase morreu.
- Quando?
- Quando decidiu ir novamente ao quarto buscar um
travesseiro... Que ideia estúpida. Nunca se arrisque por objetos, não importa
quais sejam, a não ser que sejam objetos de poder que lhe possam tirar de uma
enrascada. Ainda assim, é necessário ter muita certeza de que o objeto de poder
é realmente assim poderoso. Raramente o risco compensa.
- Eram eles dizendo pra eu ir, não é?
- Qual “eles”? Haviam no mínimo umas 20 forças diferentes
atuando sobre você, e você viu quase todas elas.
- E aquele maior?
- Oras, era um inorgânico.
- Ele estava liderando tudo de alguma forma?
- Não, de forma alguma, mas você se prendeu a ele, não foi?
- Era o que eu mais via...
- Sim, isso é fato, ele estava bastante metido, se mostrando
todo... Mas ele nada mais é do que um aliado seu.
- Um aliado meu?
- Sim, claro. Quem foi que disse que as mulheres não têm
aliados? Eles estão sempre por perto esperando uma oportunidade de serem
adotados, rsrs...
- Mas eu não quis um aliado.
- Não é uma questão de escolha tanto de sua parte.
Compreender o que esse aliado significa para você será um enorme passe em sua
Caminhada e eu não decifrarei o mistério todo pra você.
- É o Intento que une os aliados?
- Sim, exato. Assim como muitas outras coisas que ele
define. Já perguntou por que que você obteve um tão rapidamente? – disse ele
como se lesse minha mente – Porque você possui bastante energia masculina para
uma mulher, bastante energia clara. Mulheres com mais energia clara tendem
também a amar outras mulheres como amam a si mesmas. Isso constitui para elas
sempre uma bênção ou uma maldição total.
- Eu sou menos feminina?
- De forma alguma! Hahaha... Você seria menos feminina se
tivesse pouca energia escura. Quando isso acontece, é necessário estudar a
quantidade de energia clara. Mulheres com muita energia clara e pouca escura
são muito raras, mas dificilmente isso chega a um ponto de fazê-las tornarem-se
masculinizadas. Quando há pouca energia clara e pouca energia escura, a mulher
fica sem traços femininos, mas também sem ser masculinizada. Conhecendo
razoavelmente a mulher e olhando para seu biótipo é fácil saber suas quantidades
de energia clara e escura. E isso faz muita diferença na jornada de cada um.
- Que interessante tudo isso, rsrs...
- Sim, bastante. – me olhou como se esperasse uma pergunta
óbvia...
- E os homens? – perguntei.
- Ah sim – ele sorriu. – os homens são geralmente homogêneos
em termos de energia clara, mas alguns possuem mais energia escura que outros,
tornando-se diferenciados.
- Eles ficam femininos de alguma forma?
- Não fisicamente, porém geralmente possuem traços e linhas
mais suaves no corpo do tonal. Ainda assim, possuem muitas características
típicas femininas como intuição, boa memória de PA, Ensonhos, e geralmente tem
mais Amor pelas coisas do Universo... Homens com mais energia clara do que a
média tendem a ser Espreitadores excepcionais.
- Nossa... Que interessante tudo isso...
- Bastante.
- Voltando ao que aconteceu hoje...
- Hm..
- Eu perdi mesmo meu quarto?
- Você perdeu toda sua casa quase, na verdade... rsrs
- Perdi meu espaço sagrado interior também?
- Também, de certa forma, porque você foi invadida. Mas...
Quando a Águia invade nosso espaço sagrado por algum motivo, ela mesma toma
conta para que nada nos atinja diretamente enquanto não encontrarmos um novo
local. É por isso que nós evitávamos fazer atividades de bruxaria em casa no
grupo, pois se isso acontecesse com algum dos membros, a casa dos feiticeiros
perdia energia. Íamos sempre a ambientes naturais, nas montanhas, lagos... Onde
a vida selvagem poderia florescer. No caso de vocês, isso é um pouco diferente
vejo eu. Tente não se prender a contratos imobiliários... Eu evitaria se fosse
você. Nunca se sabe quando será a próxima invasão da Águia... A boa notícia é
que isso só acontece algumas vezes... Não é sempre... Uma hora vai parar...
- Quando?
- Quando a Águia se convencer de que você está em definitivo
no Caminho do Guerreiro. É a única forma. Mas deixe que ela mesma se encarregue
de lhe testar... Isso é tarefa dela. A sua, é apenas sobreviver, rsrs.
- E aquela Luz que me ajudou?
- Oh sim, grande pergunta... Aquela luz... Rra você mesma.
- Eu mesma?!
- Sim, era o seu duplo, do Nagual, lhe orientando.
- Mas...
- É lindo, não é? Tão brilhante e iluminado... Aquele mantra
que você escolheu, o Gayatri, ativou sua pineal ao máximo de forma tão sutil
que seu corpo e mente forânea nem perceberam. E você foi realizando todas as
tarefas necessárias para tal. Uma por uma.
- Tarefas necessárias?
- Sim. É preciso realizar tarefas para a ativação da
pineal... Uma delas é calar o diálogo interno, a primeira. Em seguida vem a
movimentação corporal sagrada, o canto sagrado, o recebimento de uma benção,
passe ou energia, e por ultimo uma manifestação dessa energia no tonal. No
caso, foi a proteção da casa. Ela não impediu que ela fosse invadida, mas foi
vital para você. Tudo foi. Sem essa vasão, você ficaria tonta, poderia ter
vertigens... O processo seria mais sintomático corporalmente, por assim dizer.
Como você obedeceu aos seus instintos, tudo correu bem... Ah! Essa é outra
parte importante da lição que eu vim lhe dizer... A ÚNICA forma de sobreviver à
Águia e seus testes é SEGUIR SEUS INSTINTOS, me entende? É a única maneira.
- Entendo.
- Por favor, não se esqueça disso.
- Tudo bem. Eu costumo fazer isso sempre que posso... Seguir
meus instintos.
- Isso é muito bom. Atua positivamente no seu caminho,
continue assim.
- ...
- Mais alguma pergunta, minha cara?
- Estava pensando em tudo que aconteceu durante o dia... As
mulheres no supermercado... A biblioteca... Eram todos sinais do que
aconteceria?
- Sim, eram presságios... Maus presságios...rsrs...
Repare... Primeiro você mergulhou na biblioteca, guerrear seu trabalho.
Encontrou um livro de nagualismo na estante errada rsrs... Sentiu-se mal com o
cheiro dos químicos que passam lá. Em seguida foi a outra biblioteca, no
coração do seu problema, a economia.
Quando saiu de seu campo de batalha, encontra um ex-inimigo. E lhe ajuda
ainda por cima! Kkk... Aquilo foi uma ironia completa na história toda... Uma
verdadeira manobra de feiticeira, porque você isolou o mal com gentileza!!!
Coisa de mestre... Parabéns. Em seguida você segue para buscar água, alimento
natural e sal grosso. Três itens vitais. E para sair de lá, tem que participar
de uma conversa com prisioneiras em aprisionar outrem, tentando te aprisionar
na mesma miséria que elas. Com seu silencio e discrição, você evitou ser pega.
Ah! Também encarou sua fobia de estacionamentos lotados quando chegou e quando
saiu. Em seguida foi ler sobre Liberdade... Era tudo muito propício... Você
andava se saindo bem demais nas lições para a Águia não lhe fazer uma prova de
fogo... E agora que passou, pulou uma série de etapas em sua Caminhada... É
como várias lições em uma, entende? Meus parabéns.
- E como reconhecerei o próximo teste?
- Não reconhecerás. Mas um dos sintomas típicos é que tudo
que costuma funcionar, falha, você tem que enfrentar todos os seus medos de uma
só vez, sente um medo que vem dos ossos geralmente acompanhado de tremor ou
tendência de tremor, e se sente impotente perante algo. Nesse caso, evoque sua
força superior como fez e aguarde até amanhecer ou até o bom presságio de
liberdade aparecer. Ativar a pineal pode ser interessante para proteção psíquica,
mas pode também não funcionar. Lembre-se, se não há mais nada a fazer, pense
apenas em sobreviver e esperar. Não queira dar uma de heroína e gastar sua
energia a toa como quase fez quando voltou ao quarto. Espere. Aguarde. Nesses
casos é o melhor que pode fazer. O que deve evitar sempre que possível é as
inserções no ovo luminoso, como as pontas de flechas. Mas nem sempre elas serão
evitáveis. Mais uma vez lhe digo que se não puder evitar, aguente firme até o
bom presságio. Adianto-lhe que esses testes costumam ser bastante dispersos
pelo tempo. Não temas outro tão cedo...rsrs A Água gosta de surpresas. Mas não
tente trapacear como tentar não se esquecer dele... Deixe que seja algo
natural, animal, ancestral... Apenas flua.
- Sim.
- Ah, e peço que escreva toda a história e publique-a ao
máximo possível.
- Que história?
- Toda a história.
- Como assim?
- Haha... Tudo... Quero que publique tudo tudo tudo que não
lhe invada o espaço pessoal. Faça um pseudônimo se quiser. Não me importa. Mas
primeiramente escreva essa última experiência e mostre-a aos outros do grupo.
Eles tb terão que passar pelas três provas do Intento.
- Juntos, escreverão todos um belíssimo livro a ser
publicado com o título de “os sobreviventes dos ataques da águia”... e
aparecerão no Animal Planet. – disse ele dando uma risada sonora.
- Só não tenha
pressa, sim? Tudo em seu tempo correto, e o livro ainda demorará bastante a ser
escrito.. Só digo para que se vá sabendo desde agora. Bom, vc tem que ir comer
algo e dormir, que é algo que vc fez precariamente hoje. Não se esqueça de baixar
o livro em que se encontra esse mantra, o livro hindu. Estude-o como uma
guerreira quando o intento lhe mostrar que deve.
- Estou feliz que está de volta! – disse eu
- É... eu ficarei por mais algum tempinho... Recuperar-se do
ataque da Águia exige bastante orientação. Aviso-lhe que se desejar mudar de
hábitos esse é o momento, pois tudo que faz nas próximas semanas definirá muito
os próximos anos por vir. Esteja mais alerta que nunca. Vc ainda está sob
observação médica, entendeu, mocinha? Rsrs...
- Gosto quando vc está por perto...
- Eu sei...rsrs... Gosto tb de voltar um pouco à esfera dos
mortais... Aqui todos são tão imortais! Arrgh... Eca. – disse ele tirando sarro
e rindo deliciosamente como só ele sabe – Nada como um pouco de temor à morte
para nos fazer sentir vivos... Até breve, minha cara... Seguimos nos falando...
- Até breve!
VESTÍGIOS DE UMA GUERRA
Como devem imaginar, nada mais foi como antes depois desse
ataque... Passei a ter mais consciência de minha mortalidade, a amar mais os
momentos de amor, de ódio, de alegria, de banalidades... As simplicidades da
vida, em resumo. Apreciar uma boa noite de sono, uma boa xícara de chá, cuidar
de uma planta, dizer palavras amáveis a alguém querido... Esses foram os
efeitos colaterais positivos da lição.
Ainda assim, continuo acampada em minha própria casa. Trouxe
a duras penas meu pesadíssimo colchão pra sala (ocupou a sala inteira, claro),
bem como tudo que eu precisava que estava no quarto. Roupas, livros, cadernos.
Recebi a notícia de que para sair do imóvel pagarei uma multa enorme, e no Sonhar
procurei casas mas chegava à conclusão de que nenhuma delas era compatível com
a minha energia. Mesmo invadido, este lugar ainda é o que mais combina comigo.
Os monstrinhos ficam quietinhos de dia no quarto, de noite eles ficam mais
agitados. Ainda não arrisco ir dormir lá, e estou esperando algumas respostas
profissionais para decidir se vou ou não mudar e pra onde. Mas desde esse
sonhar eles parecem estar menos hostis a mim. Tenho gostado de dormir na sala,
cabeça virada para Oeste, bem no lugar onde eu costumava fazer meus rituais...
Tenho tido Sonhares interessantes dormindo ali. Mas sei que em breve isso terá
que mudar.
Depois disso, ainda tive uma conversa com o inorgânico que o
xamã me disse ser um aliado. E creio que há mais mulheres além de mim com um
grande ponto de interrogação sobre os inorgânicos e aliados. Muitas dessas
dúvidas serão esclarecidas no próximo post. Por hora, é isso é o bastante.
Um abraço a todos,
Intento!