domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um passeio além da pele



Lembrei-me do capítulo indicado pelo Tori, “Florinda”, do livro “O presente da Águia”, que contava a história da espreitadora do grupo. A princípio uma moleza tomou conta de mim, como todas as vezes que eu começava a ler algo importante. Porém eu tinha uma energia extra dessa vez, e eu tinha um propósito. Eu devorava aquele capítulo letra por letra. Não foi suficiente. Sabia o que me esperava no capítulo seguinte, e emocionalmente alterada com o que estava lendo (que mais parecia que eu presenciava do que lia), continuei sem parar pelo capítulo da Serpente de Plumas, o último do livro. Uma confusão mental e emocional tomava conta de mim, e minhas partes mais profundas já podiam começar a interpretar aquilo “um grau além”.

Eis que uma presença aparece ao meu lado e me diz:

- Pare! Este conhecimento não é para você... Ainda.

- Mas eu quero saber o que vai acontecer!

-Pare!

Não havia como questionar aquela ordem. Ele parecia muito certo do que estava dizendo, e no fundo eu sentia que aquele capítulo estava mexendo comigo de formas que eu não tinha o aparato teórico para entender por completo. Ao menos não por enquanto...

Dei um grito de raiva, querendo liberar a excitação que eu tive de conter por parar a história no meio. No momento que o grito acabou já não restava mais nenhuma sensação de ódio e eu até meio que estranhei tanto pití por tão pouca bosta... O que fazer então? Eu tinha acumulado uma dose grande de energia de algum lugar... Talvez dos passes mágicos novos, ou do fortalecimento do tonal, que parecia ter entrado num ciclo vicioso de fortalecimento nos últimos tempos, ou talvez das leituras que tenho feito... Não importa. Aquela energia me inundava, me entorpecia e ao mesmo tempo me revigorava. E eu simplesmente não sabia o que fazer com ela! Eu andava de um lado pro outro na casa, instintivamente. Já não mais pensava, ou tinha devaneios. Apenas andava, e sentia aquela energia vibrando em mim... A sensação era de um “aqui e agora” absurdos, e ao mesmo tempo meu corpo tinha um leve formigamento, minha mente um torpor, mas tudo vibrava muito intensamente... Os sons ao meu redor eram límpidos como um quartzo, meus pés tocando o chão, o toque das minhas roupas na minha pele, o calor, o suor, e ao mesmo tempo era tudo secundário em relação àquela vibração. O que mais me seduzia, me encantava, ou de alguma forma me “chamava” era a sensação de que a qualquer momento eu poderia sair do meu corpo físico, abandoná-lo como quem abandona uma roupa que se desprende, e ainda assim continuar andando, com meu corpo estirado pra trás... Não só eu tinha essa sensação mas eu também desejava aquilo! Era como se eu precisasse sair dele! Como se tudo no meu Ser vibrasse pra ele sair! De um jeito ou de outro.. Eu só pensava em me libertar dele, em abandoná-lo. Era um instinto muito forte! Várias vezes cheguei a cambalear, achando que estava saindo,mas só levei alguns tropeções em vão... Porém a idéia me fascinava cada vez mais...

Naquela noite eu me projetaria. Tinha isso muito claro na minha cabeça... Meu corpo pedia por isso. Desesperadamente. Deitei na cama e comecei a praticar os processos de tentativas de projeção que um dia eu fiz... Sempre foi muito fácil pra mim me projetar... O difícil sempre tinha sido voltar completamente para o corpo depois. Porém ali, naquela noite, estava sendo tudo muito diferente... Eu estava com os braços abertos, o corpo jogado no colchão, respirava calmamente, mas a sensação que geralmente me invadia antes, de leveza, torpor e de ‘inflar’ como um balão não vieram... Ao contrário, eu me sentia mais pesada que antes, e uma sensação muitíssimo forte de “aqui e agora” me invadiam. Os sons pareciam mais altos, meu corpo parecia mais meu, eu parecia mais “encarnada” do que nunca! Demorei, mas saquei que o lance seria eu conseguir me projetar, mesmo com aquela sensação. Mesmo com aquela euforia deliciosa que me invadia... Relaxei, tentei e intentei o máximo que pude... Com mto esforço consegui sentir meu corpo vibrando, aquela formigaçãozinha leve que dá nessas horas. Com mais muito esforço, consegui me dividir, entre um corpo que flutuava a uns 1,5m acima de mim, e o meu corpo físico. Porém mesmo que a minha consciência estivesse no corpo que flutuava, eu não conseguia abandonar a sensação de corporalidade do corpo físico. Eu ainda sentia tudo, e com isso minha consciência enfraquecia... Comecei a conscientemente desejar estar naquele outro corpo.... Com o passar dos minutos senti que estava pronta. Apenas um desejo realmente forte e eu seria expulsa do meu corpo físico.

Nesse momento uma visão terrível me veio à mente... Eu sabia quem era. Ele vinha em negro, como uma gosma fantasmagórica, sem forma, com uma máscara de caveira de algum bicho muito estranho, querendo me assustar, me fazendo voltar pro corpo físico, apavorada. Realmente, o susto de início foi grande, mas então me lembrei de que aquela coisa não podia me matar, e se pudesse, que matasse! Eu seguiria meu caminho. Lembrei na hora que os guerreiros que começavam a querer fazer projeções costumavam ver essas “coisas” nojentas... Soube que estava no caminho certo. Nem por isso minha energia não se desequilibrou. Demorei um pouco pra recuperar meu equilíbrio e não cair num ‘susto’ no corpo físico nem “explodir” repentinamente no corpo astral (chame do que quiser). Recuperado um pouco do equilíbrio a sensação de estar a um passo da projeção completa tinha sido abalada. Pensei ser mais seguro tentar me projetar em algum lugar seguro, específico, ao invés de sair logo no quarto, a menos de 2m acima de mim mesma... Tentei focar em uma imagem, mas não consegui. Isso só gastou minha energia etérea, e quando pensei em voltar à técnica do quarto, a sensação já tinha ido embora. A sensação de corporalidade me invadindo como nunca.

Percebi então que estava disposta demais pra quem estava tentando Ensonhar... Aquela energia me deixava eufórica, elétrica, deseperada por movimento, por transcender a matéria e sua regras ridículas! Levantei-me na cama. Respirei o ar puro noturno pela janela, olhei pra Lua... Minha consciência estava alterada. Eu ouvia e via tudo e mais além, a necessidade de movimento tomava conta de mim, o ar que eu respirava queimava em mim como fogo, me inundando de energia... Eu precisava de movimento! Eu precisava de ação! E assim, sem pesamentos, apenas seguindo meus instintos, caminho pra sala... Na minha sombra no chão, formada pela Lua e as luzes da cidade, percebo o que ocorreria... A pantera estava pedindo pra aparecer... Senti meu corpo virando a felina que me possuía... Eu já não mais sabia andar em duas patas, eu já via no escuro, e não havia polegares ou tornozelos.... Percorri a sala naquele estado mágico, com toda a intensidade que aquela energia me permitia.

Eis que olho para a parede e uma energia rosada e amarela, numa pequena bolinha, me chama atenção. De alguma forma, eu sabia que ela era o meu alvo... Senti meu sangue felino ferver... Eu quase escutava um rugido baixinho saindo da minha garganta... Minha coluna, pernas e ombros se contraíram, me preparando numa posição de ataque. Estranhei uma posição de ataque tão longe do ponto, eu não alcançaria aquele ponto daquela distância... não num pulo só... Mas a pantera discordava de mim, e não dando ouvidos aos meus pensamentos, sentiu quando era a hora de atacar e se não tomo cuidado me machuco seriamente na parede. Aquela distância tinha sido mais do que suficiente! Reparei que aquele susto tinha diminuído a sensação de excesso de corporalidade... Eu por um momento era leve como uma pluma, fluída como energia pura... Saquei na hora o que ela queria me mostrar... Era assim que nós nos projetaríamos... Logo um segundo ponto, do outro lado da sala nos chama a atenção... Mais uma vez estranho a distância que ela toma, e atacamos juntas. O susto foi ainda maior, assim como a pancada no meu joelho. Repeti o processo mais duas vezes, em saltos cada vez maiores, até que decidi atacar na cama, onde tivéssemos um lugar macio pra cair e a preocupação em se machucar não nos desconcentrasse. Depois de duas tentativas, eu estava muito cansada, e me senti mais perto de relaxar o suficiente pra me projetar... Na verdade, talvez tudo aquilo tivesse sido um meio de queimar energia pra que eu pudesse relaxar... Levantei da cama num pulo, e comecei a fazer instintivamente alguns passes energéticos pra tentar entender melhor o que estava acontecendo, tentar entender o que fazer com aquele energia e como fazer para me projetar com ela. Após alguns passes ( que eu nunca tinha feito antes, que vieram a mim de repente) , grande parte da energia foi liberada, se integrando a um fluxo natural no ovo luminoso... Eu me sentia levemente cansada. Fui pra cama de novo... Dessa vez estava mais perto... E quando comecei a me sentir um pouquinho mais leve, o predador me aparece de novo. Dessa vez foi mais fácil não me desequilibrar.

Intentei por ajuda. Eu estava vendo que não ia conseguir me projetar sozinha... Eis que eu sinto aquela presença de novo, recomendando técnicas de respiração e mentalização, me incentivando... Lembrei de uma técnica em que o aprendiz podia sair pelo próprio chákra coronário e já senti uma parte minha se libertado e se inflando como uma bolha. Essa parte se posicionou ao lado da mesma presença que tinha me dito para interromper a leitura há minutos atrás.

- Pronto. Você está aqui.... – e ele já era uma bola de luz

- Mas eu continuo sentindo meu corpo, mesmo que minha mente esteja aqui... Não há nada que possamos fazer? – e então todo o resto do diálogo se deu sem palavras, apenas silenciosamente

- Não por hoje... Essa sua energia lhe foi dada como algo poderoso, que substituirá a sua falta de sobriedade por enquanto... Use-a com sabedoria...Com essa corporalidade extra você vai ser mais capaz de se equilibrar e se manter equilibrada, coisa que era muito difícil pra você antes. Porém, vai ter que aprender a Sonhar com ela, agora... E quando conseguir vai ver a Sobriedade que terá!

Soube naquele momento que precisava me libertar das minhas amarras pessoais. Senti que eram elas que impediam que eu saísse totalmente do meu corpo físico e fizesse isso sobriamente. Vi o quanto o caminho que teria que percorrer era longo, mas também vi o que me esperava no final dele: uma limpidez incrível. Me pergunto se é isso o que chamam de consciência intensificada... Porque era assim que eu me sentia... intensa! Em tudo o que fazia!

No que ele me explicou sobre a energia, uma imagem me veio na cabeça... Eu estava em um cenário que parecia um plasma, que a todo momento mudava de cor. Daquele plasma, subia um “manto” verde-água, com manchas em lilás, e com filamentos brancos e prateados que brilhavam lindamente, no formato de teias de aranha, e mais pareciam “veias”, que faziam aquelas energias pulsarem. Era uma visão maravilhosa! A presença que estava comigo, me ajudava a “ajeitar” aquela energia em mim, como se ela fosse um vestido, que tivesse um jeito certo de ficar posicionado. Eu ajeitava aquele “manto” no meu outro ombro, pra que ele não caísse no chão. Não queria sair dele por nada... Era tão bom!

- Agora acostume-se com essa energia... Trabalhe com ela... Faça com que ela se “acomode” em você.... Ela é como uma roupa nova pra quem sempre andou pelado. Vai ser estranho no começo, até você se acostumar. Portanto concentre-se nela e faça o máximo de coisas possíveis sem perdê-la. Ela lhe servirá a um propósito muito importante!

Soube também que quando a minha tagarelice mental começava, a energia de dissipava, e com ela minha consciência e vitalidade! Era como se a minha saúde agora dependesse de eu calar minha boca mental... ashuashasuhasuhasuh E era difícil... Provavelmente ele que me “disse” isso, meio que sem palavras.

- Pronto, era só isso que eu queria te mostrar..

Até considerei a hipótese de ter mais coisas pra fazer ali, naquele estado especial, mas já estava muito cansada, e a presença já tinha me deixado claro que era hora de voltar. Então voltei ao meu corpo físico, numa aterrissagem suave e muito nítida. Tentei me levantar para fazer algum serviço doméstico pra me acostumar com a energia, mas estava cansada, parecia enfraquecida...

- Não é sono... é apenas uma mente cansada. – ele disse, pra minha surpresa – Agora ela tem que chefiar mais energia, e não tem força pra fazer isso por muito tempo. Por isso é importante calar o diálogo. Medite e se sentirá melhor. É como se sua mente estivesse querendo ‘expulsar’ essa energia estranha. Não deixe! Você precisa de toda ela! 

Fiz o que ele recomendou, porém só fiquei ainda mais cansada e ao levantar senti uma vertigem.

- Ok... Agora sim, é hora de dormir.

Finalmente concordávamos! Fiz uma saudação à Lua, na janela, altamente alterada por aquele estado mental novo (em que eu mais parecia uma bêbada, devido ao cansaço), e me entreguei ao sono... Que não vinha. Eu sentia um enorme cansaço físico e mental! Porém nada parecia me trazer o sono que eu precisava. Com aquela energia e com aquela lucidez, eu podia ver a energia ao meu redor, senti-la, identificar suas fontes com muita facilidade... Então uma energia de um acontecimento que tinha acontecido naquele apartamento me invadiu a mente e eu entendi tudo de uma vez. Aquela energia não era pra me fazer sonhar, mas sim para recapitular! As "cenas" que vinham a mim, não vinham mais em um turbilhão de coisas, que me deixavam sem saber com onde começar e exausta. Elas vinham uma a uma, intensas como nunca, e não me deixariam por nada. Eu sabia que, naquela noite, eu estava começando um longo trabalho...


Efeitos secundários da nova energia

Depois que recebi aquele “manto” novo, reparei algumas mudanças em mim. A primeira delas é uma audição mais apurada (ou uma sensação de uma audição mais apurada). É como se com um pouco mais de concentração eu pudesse “ver” as energias ao meu redor, ver meu ovo luminoso e de outras pessoas (com maior dificuldade). O calor para mim já não me drena mais tanta energia quanto drenava antes (era algo quase caricato de tanto que eu odiava o calor! Rsrs). Não que eu não o sinta mais, mas parece que meu corpo reage a ele com menos “desespero”, “atacando” menos. Ao mesmo tempo, tenho reparado que tenho suado mais, mesmo quando em comparação com outros dias que fizeram a mesma temperatura. Meu olfato também parece ter ficado um pouco mais aguçado, consigo até detectar qual é o meu cheiro e o cheiro da minha casa (que antes eram as únicas coisas que não tinham cheiro nenhum...rsrs), mas pode ser que isso passe com o tempo, conforme eu for me reacostumando com eles.
Outra coisa curiosa é o efeito no tempo, parece estar passando de maneira mais lenta também. Não no sentido de ser algo moroso e entediante, mas no sentido de que eu pareço conseguir fazer muito mais coisas durante um dia, e quando acho que daqui a pouco o por-do-Sol vai começar, olho no relógio e vejo que são 14h da tarde!
Sim, é mais preciso do que nunca calar o diálogo interno. A “platéia interior”, como diria Tori, nos drena muita energia, mas ao mesmo tempo eu pareço que consigo calá-la mais facilmente. Se antes eu precisava gastar muita energia para ficar atenta a esse diálogo, e me era exaustivo calá-lo, hoje eu gasto alguma energia para ficar atenta, e colocar um fim nele só me custa “intentar” isso.
Por outro lado, parece que Ensonhar agora vai ficar mais difícil... Vou ter que aprender a levar aquele "manto" comigo quando for "sair pra passear", e ser muito firme em manter minha recapitulação.
Parece que as regras do jogo mudaram agora... E eu não tenho muitas opções de jogada...rsrs