terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Poder Feminino dos Ciclos


Final de Junho. Tudo indo 'muito bem, obrigada'. A vida fluía bonita, aproveitava os benefícios originados de alguns meses de auto-obesrvação total: o tempo condensado, a rotina fluindo, a certeza de que o Universo por si só providenciaria a mim os recursos necessários que eu viesse a precisar (nada mais e nada menos do que isso). A vida fluindo bela e brilhante. O Sonhar evoluindo, as Recapitulações trazendo a tona os lixos individuais do passadono presente... Os relacionamentos - todos - evoluindo para novas compreensões, novas identificações, mais desapego e menos expectativas. Uau! Como de repente tudo ficou tão bem?!

Tudo passando em velocidade muito rápida - rápida demais. Em relances de meu reflexo do espelho sentia meu próprios olhos me olhando atentos, arregalados - meu duplo se aproximando bizarramente. Os presságios, os sinais que eu sempre prestava atenção e conseguia interpretar. Não, não vou virar essa esquina. Na próxima, me esperava uma surpresa muito agradável: rever um velho amigo, uma bela paisagem, um amiguinho de quatro patas, ou qualquer outra coisa que eu não tão surpresa assim (mas igualmente maravilhada) aproveitava intensamente. Ta aí! "Intensidade" era a palavra de ordem. Tudo. Todos. A todo momento. Sem parar. Acordar. Lembrar do Sonhar. Exercício de respiração. Saudar a manhã. Aula. Concentração. Drenagem energética. Voltar pra casa. Recuperar-me. Comer. Ensonhar. Recapitular. Trabalho. Drenagem. Voltar. Recapitular. Supermercado. "Oi mãe! To bem e vc?". Faxina. Concentração. Varrer pra fora tudo que é desnecessário. "Não, mãe, eu não estou fugindo de vocês, só estou na correria". Levar o lixo pra fora. Que com que ele se vá tudo que já apodreceu em minha vida. "Oi amor! Que saudade!". Preparar as aulas. Essa turma precisa de mais textos. "Alô. Sim, sim, eu assumo essa turma nova". Preciso melhorar minha alimentação e cortar o cabelo. Pincéis e tinta - finalmente! Pouco tempo. O sono me bate. Apanho. Cama. Ensonho. Amanhã, tudo de novo. E de novo. E de novo...

Uma bela manhã acordo como quem dormiu pouco demais. Não abro os olhos. O Sonhar foi conturbado, mas não me lembro. Me forço a lembrar. Não funciona. Tento de novo. Silêncio Mental. Sentimento de angústia. De cansaço. Como uma ameba, me arrastando olho pro céu da manhã. Que manhã linda! Eu, no entanto, só o pó. Café. É tudo que eu preciso é café. Não tem. Nem chá mate. Água só um pouco, e eu que não vou ter tempo de passar no supermercado hoje... Cansaço. A cama me chama, loucamente apaixonada... 'Volte pra mim, meu amor! Venha! Vamos dormir!'... "Não! Não posso faltar hoje. Para com isso!". Último pão. To atrasada. A biscicleta, meu meio de transporte típico, me parece mais pesada, a subida mais íngreme... É só um dia cansativo... Amanhã melhora. É, só que não. Ainda mais me arrastando tento meditar. Durmo. Tento fazer os passes mágicos. Sem sucesso. Sinto-me forçando algo que não quer acontecer. Faço um auto-questionamento sincero. Não encontro sinais de indolência. Minha energia simplesmente quer repouso.

Mas como isso? O Caminho do Guerreiro não era uma luta constante? Sem descansos? Com a morte a um braço de distância olhando para nós? Não, não... Deve ser indolência. O Silêncio Mental me é acessível, consigo alcançá-lo, e quando o faço, sinto uma enorme necessidade de descanso. Mas não me sinto cansada exteriormente. Não me sinto fisicamente com sono. Isso é muito estranho... Períodos de descanso são necessários, ou assim eu sempre acreditei... Mas... sinto-me tão produtiva buscando a Impecabilidade... Alguma coisa não está certa. Preciso buscar ajuda. Ajuda de quem se sinta como eu me sinto. E sei onde buscar...

Fecho os olhos. A escuridão da floresta em por-do-Sol se forma sobre mim. As árvores já tão conhecidas, o riacho, a gruta... Sei com quem vou conversar quando esse lugar se apresenta a mim...

- Qual é seu grande problema, afinal? Pra quê tanta afetação? - pergunta-me ela em sua pelagem indistinguível da escuridão das sombras das árvores. Seus olhos brilhante me encaram com a Implacabilidade do Selvagem.

- O que está acontecendo? Sei que preciso continuar meus exercícios que você indicou... Mas algo em mim não quer se mexer simplesmente...

- Por que a surpresa? Essa sensação é indolência?

- Não.

- É negligência? Preguiça? Falta de vergonha na cara?

- Haha... Não, não, e talvez.

- Então qual é o seu problema?

- Eu achei que o Caminho do Guerreiro exigiria de mim sempre essa Disciplina...

- E exige.

- Não entendo...

- Unf... Não te falei para exercer a Impecabilidade antes de tudo?

- Sim.

- Então. Ser Impeável também significa ser leal a si mesma, às próximas vontades e necessidades. Se se sente cansada, descanse. Se sua energia sinceramente não deseja fazer absolutamente nada, seja impecável em sua preguiça mórbida, descanso, ou seja lá o nome que você quiser dar. Seja a coisa mais imóvel e inerte do Universo se sentir necessidade. Não há absolutamente nada de errado nisso. Mas pare de uma vez por todas com essa choraminga! Não combina com a gente...

- Hmmm... em poucos lugares sobre o Caminho vi sobre essa necessidade de descanso... Daí estranhei... E também, queria ter certeza de que não estava me iludindo...

- Você não está se iludindo, guerreira, se é isso que precisa saber. Mas confie em sua energia, em sua Intuição. Quando todos os livros do mundo tiverem sido lidos, ainda assim haverá muito a ser aprendido sobre o Universo, e apenas com nossa inteligência intuitiva que poderemos aprender mais sobre ele. Você já desenvolveu bastante essa inteligência por se manter afastada dos livros por um bom tempo, não simplesmente jogue-a fora agora porque existe um método mais prático e cômodo. Se quer descansar, descanse. Seja impecável nisso, como em todas as outras coisas que tem buscado ser.

A floresta se dissipa. Em frente a mim, o computador ligado. Os emails chegando, o texto a ser escrito... Mas minha cama me parece mais agradável. Pela primeira vez em muito tempo, não me forço a tentar as técnicas do Sonhar. Hoje quero apenas descansar.

Intentando inconscientemente "não sonhar" e "não recapitular", continuo cansada, porém. Percebo isso em alguns dias e então me rendo ao delicioso chamado do descanso. Descubro o Ho'oponopono. Que venham as avalanches... Tudo é uma questão de perdoar aos outros e a nós mesmos. Que venha a Morte! Vai ter que me pegar aqui na cama, babando, descabelada e em estado "comunzinho-chochinho de consciencia". Foda-se! Que o mundo acabe agora mesmo! Não levanto daqui por nada.

Os primeiros três dias foram fáceis... Foram ótimos... Do quarto ao sétimo, me perguntava quanto tempo isso duraria... em duas semanas eu já me questionava se não estava colocando meses de luta a perder... Mas lembrava-me do conselho de meu Animal Guardião. "Faça o que fizer, mas seja impecável no que escolher". Como minha energia não me deixava muita margem além de sua lentidão e pedidos de descanso, seguia seu conselho. Tinha que lutar comigo mesma para deitar na cama e relaxar sem me sentir culpada ou indolente. Meus voladores adoraram me acusar de iludir a mim mesma, preguiçosa... Incômodos que nem sempre eu conseguia não dar importância.

Descansar provou-se para mim um desafio imenso. E com o tempo fui percebendo que descansar como uma guerreira era tão difícil quanto ser impecável na correria do dia a dia - só que nessa área eu não tinha prática alguma. Só então percebi o desafio que se descortinava a mim e passei a respeitá-lo. Voltei ao meu estado inicial de interpretação dos presságios e desafios, porém feitos de uma maneira diferente, sem me mover. Apenas aceitar os ciclos como eles são e fluir com as coisas... Mas sem me mover muito, de preferência.

Passam-se os meses... Começo a lembrar dos dias agitados com uma nostalgia não-sentimental... Era gostoso me sentir produtiva, ver na prática meus progressos... Saio para trabalhar a pé. Manhã de 21 de Setembro. Solstício de Primavera. O Espírito de Ostara invade nossos corações... Que os ventos da Primavera nos tragam a paz e a inspiração necessárias... Que possamos semear uma vida melhor... Semear sabedoria, impecabilidade, alegria, senso de humor... Que possamos deixar fluir sem medo e sem receio... Que a brisa juvenil da Primavera nos ensine a ser mais alegres e a termos a humildade de estarmos sempre plantando... Sinto-me respirar com o solo. Crio raízes com as pernas. Flutuo com os pulmões, que crescem tão grandes quanto o inifinito do céu. Sou brisa. Sou terra. Sou a água do rio ali próximo, que agora balança em meu ventre conforme caminho. Sou o calor do Sol em minha face. Respiro fundo... Tão fundo quanto o planeta. Só então percebo: está feito o ritual de Ostara.

Enquanto voltava ao meu estado comum de consciência, sinto que me conectei realmente com esse fluxo da Primavera, pois minha energia está mais leve e mais iluminada... "Frescor" é a palavra. Sentia-me refrescada por aquela brisa gelada no Sol agradável da manhã. Um de meus climas favoritos. Sinto vontade de meditar, passo em frente a uma rua que morei antes e sinto vontade de recapitular. De repente tudo se encaixa tão obviamente na minha mente: Hoje era início de Primavera e eu me sentia 'redespertando' para os exercícios e técnicas dao Caminho. Faço as contas e com uma risada alta digo a mim mesma: "Sua troooxa! kkkk...". Meu período de descanso, de cansaço sem razão aparente havia começado com o Outono e ficado intolerável no Inverno. As datas dos textos não mentem. Agora era Primavera e eu me sentia apta a ir aos poucos voltando com as práticas. Eu ria sozinha... Os ciclos pagãos, fluir com a energia da Mãe Terra, o que um dia foi a essência de minha busca espiritual, agora agia sobre mim mesmo sem que eu percebesse! Algo em mim estava tão profundamente ligado à amada Gaia, que já atuava sobre mim querendo eu ou não! Agradeci ao Espírito pelo entendimento e pela honra, enquanto abria a porta do trabalho com um sorriso ambínguo de Espreitadora... "Booom diiiiaaa, pessoal!"

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tudo que somos é poeira ao vento...



Hoje no calor infernal, o céu acinzentava nossos corações, nossos sorrisos, cegava-nos pro mundo acima de ruas e calçadas. O cinza tirava a cor dos nossos dias, das nossas árvores, das nossas ruas e casas... Com o rosto franzido percebo que a poluição sufocava um pedacinho de nossas vidas já meio sem cor...
Então quando tudo parecia perdido para sempre - nada é pra sempre na Natureza - vieram os ventos que desafiavam árvores e casas, cabeleiras e cortinas. Implacável, enchendo-nos de assombro e dúvidas. Eis que se constitui uma guerra no céu. O apocalipse nas nuvens. Tons dos mais absurdos se fazem: amarelos, cinzas, negro... Para depois todos caírem aos pés de Thor, o Deus dos Trovões que gosta das coisas bem luminosas e coloridas como as Auroras Boreais... Na fúria de Iyansã, na benevolência de São Pedro, lava-se a cidade e a floresta com as lágrimas de exaustão da Terra - um sintoma que para seres humanos, já nem é mais considerado doença. O caos desce sobre os ventos com a fúria de quem já não aguenta mais. Em poucos minutos, silêncio absoluto. Marcas da guerra pelas ruas e calçadas celebram o alívio dos ares. O por do Sol se atrasava um pouco mais, para que antes da noite cair, as cores pudessem reinar alguns minutos. A leveza em respirar, a fluidez, a calma, o silêncio, a pureza... Era como se a poluição de poucas horas atrás jamais tivesse acontecido. Todos os que respiravam celebravam - em silêncio - a vida devolvida.