sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sonhando Juntos 1


Acordei com a luz do quarto acesa. O interruptor da luz ficava além do alcance das minhas mãos e do meu sono. Mesmo com ela acesa preferis voltar s dormir do que ter que levantar. Já devia estar na hora mais silenciosa e escura da madrugada. Meu horário de alma. Coloco o braço sobre os olhos pra tampar a luz e relaxo profundamente com o alivio dos olhos.
Uma sensação avermelhada tons conta de minha visão. Reparei que o quarto estava com uma diferenciada luminosidade. Atipicamente ele estava iluminado por velas. Três velas em cada ponto cardeal do quarto, e as paredes pareciam vermelhas ao invés de verdes. No silencio da casa dos meus pais, longe de toda a agitação metropolitana, eu contemplava meu retrato. Feito por umas talentosa artista, ele era a replica perfeita de meu rosto aos quinze anos de idade, época em que ganhei-o de aniversario. Olhando para ele, algo me chamava atenção nos olhos. Alguma dissonância imperava sobre meu olho esquerdo. Aos poucos, no quadro, ele ia aumentando e aumentando lateralmente cada vez mais, até ultrapassar os limites do rosto, como um desenho bizarro. Imaginava ncomo eu o teria desenhado se estivesse com a artista no momento em que ele foi concebido. Então o retrato volta ao normal, com uma leve assimetria apenas. Lembrei me do que os toltecas diziam sobre os olhos dos naguais. Depois de certo estagio, um dos olhos passava a ser diferente do outro. Pensei então em um querido amigo, Vento que Sussurra, que recentemente tinha tido uma mudança em seu olho no tonal.

Ouço um estranho barulho vindo da porta do banheiro, como se houvessem pessoas conversando. Quando olho na direção da porta do banheiro da minha suite, vejo dedos segurando a lateral da porta, como se alguém estivesse lá dentro. Reconheço os dedos. Ou a voz. 

-Vento...?

Escutei alguns barulhos vindos do banheiro. Teria ele se materializado em meu quarto?! Ele tinha dificuldades para se manter estável, de alguma forma. Lembrei então de uma técnica citada por Tori, em que para se materializar totalmente, os feiticeiros jogavam água sobre seus duplos. Ao pensar isso escuto o barulho do box se abrindo, como se tivesse lido meus pensamentos. Ouço o barulho da manilha do chuveiro ser girada e a água cair. Escutava grunhidos daquela pessoa ali, tentando ficar lúcida na água. Não me levanto da cama. Apenas espero ansiosa. Será que alguém ficou mesmo tão bom sonhador que pode até se transportar físicamente? Seria isso realmente possível então?

- Enio? E você?

Vejo a porta se abrir, com estranheza. A figura de um homem se forma entre os batentes da porta. Uma grande alegria invade meu coração.

- Jessika...?
- Haaaaaaaa.....! Não acredito nisso!!! 

Começo a rir de felicidade e assombro! Percebo que Vento também se surpreende em estar ali. Ele estava idêntico ao ultimo vídeo em que ensinava um passe magico. Alto, forte, os cabelos castanhos curtos e uma barbicha contornando o rosto, discreta. O tom dos olhos estava esverdeado, e ele tinha um sorriso jovial. Vestia apenas uma toalha enrolada na altura da cintura, e seus cabelos estavam molhados como se tivesse acabado de sair do banho. Juntos riamos da situação. 

- Meu... Como assim?! Vem aqui, deixa eu te ver! - disse a ele, levantando me sentada na cama. Era como se estivéssemos nos conhecendo, ou reconhecendo, pessoalmente. Analisávamos nossas feições para ver se batiam com as fotos que interagíamos na internet e nossos sonhos. Ele se aproximou e agaixouse na cama, a minha frente. Eu ria como criança da situação dele estar ali, e alegre de finalmente conehece-lo. 

-Caraaaacaaa!!!, vc êh real mesmo!
- Uhum - disse ele docemente
- Posso tocar? Será que vai passar por vc como um fantasma ou não?
- Claro! - disse, e estendeu as mãos para mim.

Nervosa, sem saber o que esperar daquele experimento, toquei seus dedos com cuidado, como se tivesse medo que eles desmanchassem de repente. Para meu espanto eles eram físicos! Perfeitamente sólidos.

- Vc e mesmo real, Vento!! Kkkkkk uoooouuu...
- Sou sim. Vc tb. - disse com um sorriso.

Toquei seu dedos, sua mão e pulso. Eu ria alegre. Toquei seus cabelos e a água escorreu pelas minhas mãos. Eu estava convencida de que ele era realmente físico. Ele me olhava com igual alegria, explicando-me algo sobre o quanto as técnicas eram eficazes. Estávamos eufóricos, alegres, comemorando. Uma ternura alegre tomava conta de nós. 

- Nossa! Disse eu. Vem cá, me dê oi!

Abracei o com alegria. Percebi que por um momento ele ficou receoso, dado seu traje atípico, mas logo a euforia e a alegria do momento dissiparam qualquer coisa. Era claro que ali e naquela situação, não havia cabimento nem para receios, nem para qualquer tipo de intenção que não algo leve, livre e fraterno. Foi uma emoção que muitos envolvidos com a mente social se quer acreditam que possa existir, quanto mais entre pessoas de sexos diferentes. Mas ali existiu, e de uma forma muito intensa. Aquele abraço me inundou daquela sensação maravilhosa, deixando claro para nós dois que não havia nada a recear. Nada a estranhar. Apenas a comemorar.

Perguntei a ele como ele estava, como tinha passado. Disse me que havia feito mil venturancas no sonhar, e conforme me contava me mergulhava em uma história fascinante, e eu via tudo como num filme. Ele tb estava mto empolgado e feliz com seus progressos no sonhar. Disse então que alguém havia lhe dito, ou ele havia percebido que não havia o que esperar em troca de seus trabalhos e missões no tonal, pois sua época jamais o entenderia de qualquer forma. Ele jamais seria reconhecido e compreendido por sua época simplesmente porque não havia espaço na sociedade para pensamentos como aqueles, experiências como aquelas, e que aquilo não mudava em nada sua vontade de fazê las mesmo assim. Essa é a parte que eu menos me recordo, era como se estivesse ficando cansada, e preferia manter a cena naquele nível de realismo do que entender o que ele dizia.

De repente olhando para ele tudo começou a ficar turvo e difícil de falar. Sentia um profundo relaxamento no corpo, provocado pelas velas, pela alegria e agora por mais algum outro fator. De súós sonhar típica, deliciosa, inspiradora, inundando minhas veias. Não queria abrir os olhos. Respassei todo o sonhar em minha cabeça. A sensação maravilhosa da alegria e euforia continuavam, como se tudo tivesse se passado com meu corpo físico. A serotonina banhando meu corpo. A luz do quarto ainda acessa. Refleti por um momento sobre tudo que se passou. Ele não havia se materializado, mas sim eu estava sonhando com ele. Perguntei me de ele tb se lembraria daquilo, mas achei improvável. Ainda assim, imaginei que ele estaria disponível na Internet pela manhã, conforme as coincidencias do Espírito. Reparei que no sonho o quadro estava do outro lado do quarto, e que eu nunca acendo velas nesses lugares. Provavelmente agora vou passar a acender. Mas o que me surpreendera mesmo tinha sido as sensações envolvidas. Tão puras. Tão alegres. Tão livres. Já havia sentido amizades verdadeiras por homens antes, mas elas sempre eram retribuídas com interesses sexuais, muitas vezes grosseiros, propostas feitas de maneiras completamente escrúxulas. No final, eu brigaria muito feio com eles mostrando que as mulheres nao eram objetos disponiveis para seu bel prazer e a amizade acabaria de maneira abrupta e violenta. Assim, nunca esses sentimentos tiveram como crescer e amadurecer em mim. Eu não conhecia o quanto ele podia ser profundo e intenso. No sonhar eu vi o quanto. E nossa, como era bom! Mesmo sabendo que há também um fator envolvido de ambos trilharem o mesmo Caminho, e uma identificação energética... Não há palavras nem para descrever algo tão diferente, e nem para descrever a intensidade disso.

Conversei pela manhã com Vento, compartilhamos nossas experiencias, que ele relatou em seu blog, Inconfidencia Guerreira. Foram palavras igualmente emocionantes, ainda extasiados pelas sensações boas de nossos Sonhares. Ao longo desses dias venho passado por coisas muito fortes. Febres, ataques, visões. No tonal as relações ficam confusas, a comunicação estranha. E no meio de todo esse redemoinho, eu me perguntava: " E o Amor?" Onde fica o Amor nessa guerra toda? Aquele Amor mencionado por Osho, pelo Tantrismo, que eu mesma há havia sentido tantas vezes? Que tantas vezes já tinha me impulsionado para viagens maravilhosas? A resposta que fui tendo ao longo dos dias foi: "O Amor continua... Em todo lugar." Quando não estavamos no Amor, estamos doentes. O Amor que digo é o Amor Verdadeiro. Aquele que brota sem direção, como uma carta sem destinatário. O Amor por Tudo que existe. Bonito, feio, novo velho, pessoa, coisa... Cada um com sua forma. Esse Sonhar foi pra mim mais uma lição do Amor. E eu sou grata.

Me pedoe. Eu te amo. Sou grata!

Intento, amigos!