quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Quando alianças viram algemas...



"Sempre que eu pensar em mim, vou lembrar de você. Seu nome está escrito bem forte no livro da minha história. Um livro sem páginas, mas que vai ser sempre lido por todos aqueles que no futuro me olharesm nos olhos. Vão te achar também nos meus olhos, gata... Vão achar em mim um pouco da sua frieza, da sua sensualidade, da sua doçura, do SEU EU" - trecho de carta "apaixonada" de um ex-namorado a mim.

" Eu: Está vendo, fulano? Esse sarcasmo [da piada acima] é influência sua!
Fulano: Que bom... Pelo menos deixei minha marca em você...
Eu: Que horror! Parece que eu sou um pedaço de terra que vc mijou em cima!
Ele: Disse num bom sentido... No sentido de lembranças, não de fluídos corporais"
Conversa com um ex pela Internet (não, eu não estava pensando nos fluídos mas sim na psique perturbada dele)

" Fulano: Poxa, pensa no meu lado também! Só te traí porque tenho muitos traumas, carrego tantas dores... Tente ser compreensiva..." - Argumento de ex para que eu aceitasse ele de volta depois de ter um caso de um mês. O que se seguiu a isso mereceria um post exclusivo, mas em resumo acessei uma parte desconhecida de mim mesma. Uma parte com um pacífico e total descaso com qualquer coisa inclusive eu mesma. Devido a isso, é a frase a qual eu mais sou grata de todos os relacionamentos.

" Feliz Ano Novo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!... : )" - a única mensagem de ex (que na época era atual) de feliz ano novo enviada pelo Facebook, no dia 2 de Janeiro. Passei a festa de ano novo com o celular na mão rezando por uma mensagem que não veio.

" Amigo 1: E a J.? Vcs não tão mais juntos?
Fulano (ex) : Aahh... Nada a ver mais... Melhor deixar quieto...
Amigo 1: Hmmm tendi...." - mensagem de Outubro enviada pelo Face de ex a um amigo que eu só veria meses depois.
Reparem na mensagem enviada por mim a um amigo meu na mesma semana:
" Essa semana ele apresentou uns sinais de melhora já sabe... Disse que vai procurar uma casa pra ele morar sozinho... lembro que qdo eu tinha 14 anos, quis morar sozinha também e logo após essa minha vontade comecei um processo muito forte de auto-conhecimento que foi as bases pra minha evolução espiritual e pessoal desde então... Quem sabe com ele não esteja acontecendo a mesma coisa... Ele diz que precisa de um tempo pra ele mesmo conseguir se descobrir, se encontrar no mundo... Nós dois concordamos que ele está passando por um processo muito importante de auto-descobrimento, e que quando isso acabar, poderemos ficar juntos, sem essas dores..."


" Eu tenho que admitir, gata, e você também, uma coisa: Eu ainda sou o ex da minha ex..." - confissão de ex-namorado após 6 meses de convivência diária.

" Uma pessoa só come morangos pela primeira vez na vida uma ÚNICA vez! Ela pode comer morangos muitas vezes, mas só será UMA vez que ela comerá morangos pela primeira vez! Eu convivi anos com as pessoas tratando morangos como algo rotineiro, só que eu mesmo nunca tinha comido morangos antes! Justamente porque eu estava esperando alguém que nunca tinha comido morangos para que JUNTOS nós tivéssemos essa experiência ÚNICA que nunca iria se repetir mais... Então, não venha me dizer que não faz diferença, porque faz!" - confissão de ex, entre lágrimas, sobre seu trauma de ter perdido a virgindade com idade mais avançada que eu.


"Essa questão de Grande Mãe, de Deusas femininas, na verdade vem das sociedade pastoris... Simone Bevouir fala sobre isso... Mas que na verdade servia como um símbolo, como um argumento para a dominação masculina... Porque ao mesmo tempo que o alimento vinha Deusa, ela precisava da interferência do homem, do arado, da plantação e etc. para dar frutos... Então no fundo essa questão de Deusas femininas reflete ainda uma visão machista, em que o homem teria o direito de se apropriar e "arar, semear" a mulher." Ex católico falando sobre minhas vertentes paganistas da época (essa vem até com referências acadêmicas!). O mesmo da historinha dos morangos, dizendo que meu caminho espiritual promovia o machismo. A autora citada se referia na verdade à apropriação e desvirtuação das antigas deusas pelas sociedades patriarcais.

"Não consigo vizualizar você no meu futuro. Nossos sonhos são incompatíveis." frase minha dita durante um relacionamento que durou mais 3 anos após essa constatação.

"Eu tenho medo de você." confissão com os olhos arregalados de ex quando comecei a falar a ele sobre meu Animal de Poder e minha forte conexão com as energias lunares.


"Eu: Nossa... Acho tão interessante que nesses três anos de convivência a gente aprendeu tanto a lidar um com o outro... Acho que vc está me entendendo melhor, finalmente...
Ex: É... É uma questão estatísica, neh...
Eu: Estatística?
Ex: É... Acho que não é porque eu te entendo melhor... Mas sim uma questão de tentativa e erro... rsrs..."
Momento romântico com ex-namorado cético.

"Como você pode dizer uma coisa dessas pra mim? Eu fiquei irada! "Se precisar você me reconquista depois"?! Um total descaso com a dor que eu sentiria quando você me deixasse, e uma prepotência absurda de ter certeza absurda de que você seria tão absolutamente irresistível que eu sem sombra de dúvida voltaria pra você... Sinto muito, mas hoje vc já tem que me reconquistar e eu nem sei se isso seria possível..." - carta escrita por mim a um ex namorado. Nunca entreguei essa carta porque achei-a muito agressiva. Passei a carta a limpo escrevendo as mesmas coisas de um jeito mais "amável" e aí sim entreguei. Essa versão ficou escondida e esquecida em um caderno até hoje.

"Poxa... Você acha que é todo homem por aí que age como eu? Que se importa se a namorada chegou bem em casa? Que se preocupa se ela está quentinha? Se ela está em segurança? Não, não se importam! Você deveria pensar bem nisso antes de decidir terminar comigo..." Ex-namorado vendendo seu peixe num marketing pessoal muito convincente numa conversa online logo após nosso término.


" É... Ainda tem muita coisa a melhorar..." resposta geral de dos exs quando eu mostrava qualquer trabalho artístico feito por mim.

"O seu problema é que quando vc termina um relacionamento aquilo morre para vc, é uma porta que vc fecha para sempre... E a vida não é bem assim... Meus pais por exemplo, se separaram e alguns anos depois meu pai reconquistou minha mãe e eles se casaram... E eu sinto que com você eu jamais poderia fazer isso..." ex, tentando tranferir pra mim um problema que era dele, rsrs...



Bom, fiz essa lista bizaríssima de falas de antigos relacionamentos como uma proposta mais sólida quanto às posturas de homens e mulheres em seus relacionamentos... Como era a proposta inicial do blog, estou expondo aqui aspectos profundos de aspectos rotineiros e práticos que lidamos diariamente, que era algo que eu sentia que faltava no Caminho do Guerreiro: a exposição, o visceral, o íntimo impronunciável, a ferida. Talvez seja apenas um gosto meio sádico da minha parte, mas talvez outras pessoas possam se sentir da mesma forma... Muitas vezes lemos nas obras do Caminho sobre não ser disponível, sobre deixar os outros em paz... E concordamos com isso, achamos lindo... mas muitas vezes não conseguimos ver dentro de nossos relacionamentos, nossas vidas, os sinais de disponibilidade... Por isso decidi colocar aqui exemplos que aconteceram comigo, na esperança que alguém possa identificar algo similar em seu próprio relacionamento (atual ou não).  Aqui foquei no relacionamento romântico (ou um projeto disso ashuhasuhasu) porém isso poderia se aplicar a outros relacionamentos de maneira análoga. Os trechos aqui expostos foram seguidos por recapitulações maravilhosas e libertadoras! Gostaria de dizer que dei uma 'aumentadinha' nos fatos relatados, mas eles foram desse nível para pior... Existiram situações ainda mais delicadas, mas que não compensavam ser expostas aqui por se tratarem se situações que precisariam ser melhor contextualizadas para serem compreendidas completamente. Vale lembrar que o objetivo não é pintar a caveira dos anônimos aqui expostos, mas sim expor a MINHA própria disponibilidade, a minha própria auto-negação, minha própria disponibilidade, e etc. Como vocês podem ver, já cheguei a extremos de auto-anulação e negação de minha Intuição várias e vezes e por períodos longos de tempo, atraindo inconscientemente homens que apesar de aparentemente serem diferentes, por dentro possuíam uma necessidade controle sobre suas parceiras. Ou seja, meu próprio intento era esse, sem que eu percebesse.

Houve uma manhã, em que eu acordei solteira pela primeira vez em muitos anos... Uma manhã após um dia e noite inteira sem pensar em homem nenhum do ponto de vista romântico. Acordei com vontade de me cuidar tanto externa quanto internamente. Tinha acabado de vencer um desafio importante que era extrair dois sisos e a recuperação tinha sido um sucesso. Com minha roupa favorita, peguei o carro do meu pai emprestado (eu amo o carro dele! rsrs), um símbolo pessoal pra mim de minha independência e fui comprar materiais para minhas Artes na cidade com minha irmã. O dia estava fresco e ensolorado... Enquanto contemplava a estrada, senti uma paz muito profunda, uma leveza em meu coração... Um momento de um silencio feliz de liberdade... De repente percebi que essa felicidade vinha de uma constatação de que agora só tinha eu no meu mundo... Não eu + os problemas de fulano ou cilano... Não era mais eu + alguém. Era só eu, a velocidade do carro, a música adorável que tocava e o céu azul... Libertos ao vento. Aquela sensação me tocou profundamente. Senti ali que apesar de não ter recapitulado quase nada ainda, eu estava de alguma maneira misteriosa liberta daquela locura.

É muito complicado falar de relacionamentos no Caminho do Guerreiro porque os "pecados" são muitos... Auto-importancia, disponibilidade... Estamos sempre nos pegando em pequenos tropeços diários e constantes que nos drenam energia... E nem sempre temos estruturas interiores suficientes para lidarmos com isso suavemente e acabamos nos xingando mentalmente, nos auto-julgando, ficando com raiva ou deprimidos a esse respeito. E não precisa ser assim... Quanto melhor aprendermos a lidar com esses episódios maior será nossa capacidade de aprenzidado... Daí o exercício da exposição dos erros. Sinto que a cada amigo que conto um erro que cometi em qualquer área da vida, lembro a mim mesma sobre esses perigos, e mais me distancio de cometer esse erro novamente, mais esse conhecimento se sedimenta em mim. Não só por falar, por repassar conhecimento, mas também porque a própria pessoa lança 'fios' de energia a respeito daquilo sobre mim, me vendo como uma pessoa segura, confiante... E bem, já que não dá pra evitar os fios, que eles venham de maneira útil...rsrs. Continuo recapitulando, e não desejando esses fios, mas descobri em contar essas histórias um poder oculto. O único risco é de a pessoa discordar de você e lançar fios de "putz... ela não tem noção do que tá flando...", vai da nossa intuição saber para quem, quando e como fazer esse "feitiço"... Contar histórias fictícias sobre derrotas e vitórias interiores ajuda a dar um "olé" nesses fios, que não atingirão nós mesmos, mas sim alguma outra coisa no Universo que acabamos de criar. Mas "contar histórias" é algo que merece um post só pra esse assunto...

É muito engraçado esse lance de recapitulação... Há um ano atrás estava vivendo algumas dessas falas na minha vida rotineira, e lembrar delas me causaria muita dor e aflição... Depois de recapitulá-las no entanto ao longo desses meses, elas parecem pertencer a uma outra pessoa, distante de mim... A idéia da postagem veio quando encontrei uma carta antiga nomeio dos livros, onde a primeira citação foi encontrada... Meus olhos então buscaram direto aquela primeira frase que li, como se ela fosse o que eu na verdade precisasse ler... Algo que o Universo quisesse me mostrar... Num primeiro momento senti um choque. Choque puro e simples porque vi ali um intento muito óbvio e muito claro de alguma outra coisa que não era amor, mas sim uma sensação de "demarcação", de possessão... "MINHA namorada", "MEU amor"... Então uma sensação dupla me invadiu: uma primeira de "como foi que eu pude não ver isso?!" naquela época, e outra do mais puro alívio em não mais estar passando por aquela situação e aquela época... Pensei num primeiro momento que aquilo pudesse ser um indício de alguma cena a ser recapitulada. Fechei os olhos, me revi lendo aquela carta, senti novamente todas as inseguranças, os medos, os vícios, a disponibilidade... Com aquelas inseguranças, fazia sentido eu achar aquela frase bonita e romântica. Senti quando fiz a respiração que tive acesso a alguns "fios" energéticos antes inacessíveis a mim... Uma ínfima parte de fios ainda ficou (aprendi a sentir e ver os dios energéticos durante as recapitulações ao longo do tempo). Quando voltei ao 'aqui e agora', reli o trecho da carta, mas minha reação foi a mesma, só que ainda mais nítida era a sensação de alívio e de choque. Procurei vestígios de emotividade, mas não encontrei... Soube então que era uma parte profunda de mim que estava tendo aquela reação. Dizem que após a recapitulação não sentimos mais emoções quando lembramos da cena, porém eu tinha uma sensação de que eu não sentiria ou pensaria nada sobre elas. Estava enganada. Na verdade chego a sentir uma leve ânsia de vômito quando leio a carta. Não sinto nada quando me lembro da cena de lê-la, inclusive agora está até difícil lembrar de que eu havia recebido essa carta... Essa parte confirmou pra mim, mas ainda assim quando me lembro daquela época, e da maneira como me sentia, apesar de não me lembrar as imagens, as palavras e as conversas, consigo me lembrar de como me sentia... Não como alguém nostálgico que usa o passado como uma fuga, mas sim como um animal ferido que já recuperado olha o lugar em que se machucou. Pode ser que ela desapareça completamente quando termine de recapitulá-la até o fim. Tenho respeito por essa época - algo que não tinha antes, tinha apenas repulsa. Respeito-a como parte da formação do que sou hoje, mas que passou. Estou começando também a desenvolver respeito pelas pessoas envolvidas no processo - antes só tinha uma gratidão contrariada rsrs... Mas o mais importante de tudo: olho para aquele tempo, cerca de um ano atrás, com um Intento muito difícil de explicar, mas que passa por uma sensação de uma dura lição que eu precisava aprender para seguir em frente, e uma certeza estranha de que eu não mais passarei por ali. Visualizo-me como uma pessoa no meio de uma subida de uma colina, olhando para trás e vendo um vale cheio de pedras pontiagudas, seco, cinza, duro e cheio de predadores que extende até o horizonte, um lugar em que caminhei sozinha por muitos anos, na esperança de existir algo diferente mesmo com tudo ao meu redor me dizendo que o Universo se resumia àquele lugar inóspito. Ando agora descalça na grama - que não é totalmente verde, mas o suficiente para ser macia - já me tomei um belo banho de cachoeira ali perto, recolhi minhas roupas, deixando o peso desnecessário ali mesmo, e agora sinto um vento úmido e gentil massagear meus cabelos, enquanto olho para aquele lugar cinza sem sentir por ele remorso, tristeza, raiva, ou qualquer outro sentimento fácil de explicar em nossa língua. E apesar de uma parte de mim ainda se mover quando eu olho pra lá tenho uma certeza inexplicável de que olho pela última vez. Respito fundo então, fecho os olhos por um momento, com sensações que as palavras não alcançam para depois dar-lhe as costas respeitosamente e olhar para o caminho ainda por percorrer: montanhas altas e imponentes, que desafiando o azul do céu com pontas de gelo, e agradecer a Terra com verdejantes vales que na Primavera darão flores espetaculares. O Caminho é solitário, a subida é íngreme, difícil, nem carrego suprimentos. Ainda apesar da dificuldade, da solidão e da neve que pode ser que eu tenha a enfrentar, a vista é profundamente bela e inspiradora, há água potável fácil de encontrar, a grama é macia e o vento - pelo menos por hora - é gentil. Dessa vez, estou bem agasalhada e me sinto bem, disposta e bem-alimentada para continuar minha caminhada. Pego então a longa madeira que me serve de cajado que encontrei logo ali, e em silêncio sigo minha caminhada - sem destino definido e muito menos hora pra chegar, mas ainda assim meu impulso de movimento é forte, como um ímã para aquilo que tudo que vive há um dia de encarar...

Intento!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

E Se...?

(Uma tela de Paul Delaroche) 

E SE...?

E se o mundo como me disseram que era não for bem assim?
E se as coisas forem diferentes?
E se o que importa mesmo não for o barco – mas sim as correntes?
E se a viver for apenas escolher qual dessas marés pegar quando podemos escolher e nos deixar levar quando não podemos?

E se...?
E se o que realmente importa seja o que eu sinto que realmente importa?
E se minhas mais absurdas suspeitas estiverem corretas?
E se as mais claras certezas alheias estiverem erradas?

E se...?
E se eu estiver engana que eles estão certos e eu estou errada?
E se eu estiver certa e eles errados?
Mas afinal o que é “certo”? O que é “errado”?
Eu simplesmente não consigo responder.
E afinal o que é “eles”? O que é “eu”?
Afinal qual seria a diferença?
Eu também não sei responder.

Mas e se...?
E se não houver fronteiras entre “eu” e “eles”?
E se tudo for uma infinita continuação de um único respirar? De um único coração?
Mas afinal o que isso tudo significaria?
Se não há mais fronteiras entre o “eu” e o “eles”...?
E se “eu” estiver dentro deles e “eles” estiverem dentro de mim?
O que então seria “certo”? O que então seria “errado”?
O que então faria diferença?

E se...?
E se não houver diferença entre o “certo” e o “eles”?
E se no fundo o que eu aprendi como “certo” não seria o “eles” deles em mim?
Então o “errado”... Seria o “eu”?
E se no fundo a proibição não for em relação ao que é “errado”, mas sim em relação ao “eu”?
E se o verdadeiro objetivo por detrás da máscara for a morte do “eu” e a injeção de “eles”?
Então estariam “os errados” apenas sendo seus respectivos “eus” ?
Seriam aquelas que eu fui ensinada a ignorar os que conhecem o caminho para minha libertação?

Será?

Será que então no fundo eu sempre souber o que ser, mas fui ensinada a esquecer?
Será que então, quem sabe... talvez... no fundo... eu ainda saiba?

E se o “eles” for uma droga que precisa de constante reinjeção?
E se eu parasse de permitir que me injetassem?
Será que “eles” iriam embora?
Será que o “certo” iria embora?
E se conceitos duais dependem um do outro...
Quem sabe também o “errado” também iria?

Será que restaria apenas “eu”?
Já que “eu” e “eles” não somos opostos, mas sim uma unidade...?

E se a unidade estiver doente?
E se não estiver?
E se os doentes formos nós?
E se a doença for enxergar o Um como Dois?
Como Três? Ou sete bilhões? Ou mais?
Como infinitas cápsulas desconectadas umas das outras?

Será que então eu nasci saudável?
Será então que eu adoeci com o tempo?
Será que eu permiti que injetassem em mim a droga do “eles”?
Quando?
Por que?
Como isso foi acontecer?!

Mas e se...?

E se no fundo isso não importar de fato?
E se... Talvez... Lá no fundo... Quem sabe... Haja um motivo desconhecido para isso?
E se não for um motivo?
Mas sim uma corrente...?
Uma corrente na qual meu barco foi parar?
E se a palavra “motivo” não tiver sentido?
(porque “motivo” mais parece uma prisão do que um esclarecimento...).

Será?
Será que um dia eu compreenderei a dança das marés?
Seria “compreender” apropriado?
E se “compreender” também for uma prisão?
E assim como as águas que simplesmente fluem, dançam,
Afundam e emergem, vão e vêm, sem pensarem em compreender...
E se assim como as águas, as marés não forem feitas para serem compreendidas?
E se tudo que pudermos fazer é senti-las? Tocá-las?
Dançar com elas... Afundar e emergir... Ir e vir...?

Será?

E se for mais bonito assim?
Será.

E se no fundo não houver muito que possamos fazer?
E se no fundo nem o mais eficiente barco, remador ou nadador tiver poder para mudar sua maré?
E se tudo que pudermos fazer é escolher nossa corrente...
Quando o Oceano assim nos requisitar?

E se essas duas forças em mim,
Forem na verdade duas correntes paralelas indo em direções opostas?
E eu solitária em minha canoa estiver girando se saber pra onde remar?
E se aqueles que sinto tão próximos a mim...
Na verdade forem também remadores rodopiando nas mesmas correntezas que eu?
E se eles também estiverem sufocados de “eles”?
Tentando achar sua bússola dentro da bagunça de suas canoas...?
E se eles já tiverem suas bússolas e agora lutam para colocarem suas canoas na correnteza que desejam?

E se eu mesma já tiver encontrado minha bússola?
E se eu mesma já souber qual correnteza me leva aonde?
Eu pegaria meu remo e me colocaria na correnteza que desejo?

Eu me atreveria?
Eu teria forças?
Eu arriscaria tombar minha canoa e afundar-me no Mar que tantos engole?
Eu assumiria minha responsabilidade se ela tombasse?
Eu assumiria minha responsabilidade se seguisse na direção errada?

E se eu seguisse na direção certa...?
Será que eu ousaria?
Será que eu me deixaria paralisar pelo medo?
Será que eu me permitiria fluir sem culpas ou remorsos? Sem olhar para trás?
Ou será que deixaria essa correnteza tão forte e misteriosa rachar a mim e minha canoa?
Ou será que os gritos daqueles que não querem que eu me afaste...
Os gritos de outros “eus” tão contaminados de “eles”...
E que no fundo estão dentro de mim tanto quanto eu estou dentro deles...
Será que eu deixaria seus gritos me pararem?
Será que eu deixaria que eles me adiassem?
E até quando?

Até quando?

Até quando essa correnteza poderosa e misteriosa rodopiará meu barco?
Até quando eu terei a oportunidade de decidir?
E se do dia para a noite essa corrente desaparecer tão misteriosamente quanto apareceu?
E não reste nem se quer uma vaga memória que ela existiu?
E se a mensagem na garrafa, enviada por aqueles que já a seguiram estiver certa...?
E essa corrente surgir apenas uma única vez em todo nosso tempo dentro de nossas canoas?
Para então nunca mais voltar... Sem deixar vestígios ou provas de sua existência?
E se “eu” souber que eles estão corretos?
Eu ainda permitira que os gritos deles me adiassem?

Ou eu pegaria meus remos implacavelmente?
E com o coração estilhaçado por dentro e lágrimas nos olhos
Deixaria a eles tudo o que eu puder deixar,
Com todo o Amor e Gratidão que meu Ser é capaz de manifestar,
Desse um beijo e um abraço em cada um deles,
Gravar seus rostos e gestos na memória da minha Alma,
Para então virar-lhes as costas para nunca mais voltar?
Eu faria isso sem olhar para trás?
Eu faria isso com a mais infinita Paz dentro de mim?
Mesmo sentindo toda a dor que eu fosse capaz de sentir?
Eu seguiria então a minha correnteza?
A correnteza que é nitidamente minha?
Que é nitidamente feita da mesma matéria que sou feita?
Para então deixar-me fluir pelo desconhecido do qual ninguém nunca volta?
Eu faria isso com um sorriso no rosto mesmo com as lágrimas nos olhos?
Eu faria isso com Amor e com Paz na alma mesmo com o coração em pedaços?
Eu faria MESMO isso?

Ou eu abandonaria essa ideia estúpida, ingênua e fantasiosa?
Ou adiaria tanto minha partida que a corrente então me abandonaria?
Para então seguir a corrente da sensatez, do que é “real”,
Lado a lado com todos que amo,
E para sempre apartada de mim mesma?
E para sempre dependente da droga entorpecente do “eles”,
Das alucinações tão reais e tão necessárias,
Para me distrair da dor insuportável da mutilação da minha própria Alma?
Para então nunca saber o que teria sido aquela outra correnteza?
Ou ainda pior: viver como ela nunca tivesse existido?
Até que a Morte que a todos toca para destruir,
Me desse então seu golpe final?
Para então, quando eu visse dentro dos olhos da Ceifadora Sagrada,
Todas as alegrias e tristezas que passei,
E eu então me lembrasse da correnteza que eu nunca segui,
Desse pedaço de mim mesma perdido para sempre,
Dessa vida não vivida, dos sonhos não realizados, e realidades não sonhadas,
E sentisse então toda a dor insuportável que eu sempre anestesiei,
Com uma droga que perante Ela não faz efeito ou sentido.
Só ali então, eu acertaria minhas contas comigo mesma,
Com aquela parte de mim que eu torturei, ignorei, desprezei e desrespeitei,
Ao longo de toda uma vida.
Pagaria então com meu próprio sangue, carne, ossos e lágrimas,
Uma dívida que jamais poderá ser saldada inteiramente.
Para então me desfazer em sofrimento e arrependimento,
Até que já não exista mais nenhuma parte em mim para sofrer...
...
.
.
.

NÃO!
Que cessem os rodopios! Eu pego meus remos com toda minha força!
Que calem os “eles”! Que eu me despedace tudo que tiver de despedaçar!
Que quebre meu próprio coração e o coração alheio quantas vezes for preciso quebrar,
Que vire, destrua, afunde a canoa quantas vezes for preciso virar,
Se a dor é inevitável, que eu a enfrente em minha própria correnteza,
Com a Paz de estar seguindo meu próprio Caminho,
Desbravando mares que eu nunca conheceria se não me aventurando por eles.
Que se for para afundar, que eu morra afogada, sufocada, calada e invadida
Por águas que são feitas da mesma matéria que eu!
Que se for para seguir, que eu siga com a bravura dos que ousaram estar errados,
Com a loucura dos que ousaram ser autênticos,
E com a força dos que ousaram libertar-se de tudo e de todos que não eles mesmos.

Assim, quando a Ceifadora se visitar para seu toque final,
E tirar-me então de minha canoa,
Verei em seus olhos os erros que cometi na minha própria correnteza,
Sentirei em minha Alma a Paz que só a coragem de Amar verdadeiramente pode trazer,
Então me encolherei em sofrimento e dor,
Mas sim receberei a Ceifadora Sagrada com os braços abertos
De quem recebe um grande e velho amigo,
Para então em seguida, estar cara a cara com ela e dar-lhe a batalha que deseja.
E então não a olharei com olhos assustados e arrependidos,
Mas sim com olhos implacáveis de quem aceita seu Destino,
De quem olha no fundo dos olhos seu oponente,
Com os próprios olhos cheios de ferocidade e o coração cheio de respeito
- e sabe ser este seu último duelo.

E então quem sabe, dependendo do pedido que seus olhos negros me fizerem,
Serei a dançarina que apresenta sua última Dança,
Tecendo e trançando meu próprio Ser no Véu que dançará comigo,
Para depois então entregá-lo à sua Escuridão.

E talvez, quem sabe, mergulhar de volta em minha Correnteza Sagrada,
Tão fundo quanto eu nunca havia mergulhado antes,
Até que eu e Ela nos tornemos Una...
... Novamente.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Novo Machismo e a Antiga Deusa



A questão do Sagrado Feminino me persguiu por uns dias, há uma semana atrás. Como exemplo - além da vida prática - assisti dois filmes: "Não sei como ela consegue" e "Qualquer gato vira-lata. O primeiro, hollywoodiano, estrelando Sarah Jessica Parker, protagonista também de Sex and the City,  que é em resumo um seriado sobre sexo, Nova Yorque, e sapatos. No segundo filme, "Qualquer gato vira-lata", Cléo Pires interpreta uma mulher que "tem tudo pra dar certo na vida": linda, inteligente, trabalhora, estudiosa - mas não consegue arrumar seu relacionamento. A personagem interpretada é o esteriótipo extremo de uma mulher disponível e sem senso de auto-estima. No segundo filme, aparentemente muito diferente, a protagonista é uma mãe de dois filhos + advogada bem-sucedidade de um grande escritório em NY + esposa + membro do conselho de pais e mães da escolinha das crianças ( e em todas as funções ela busca a perfeição a todo instante). Em nenhum dos casos o filme fala sobre machismo. Na verdade, fazem de conta que ele nem existe. Porém analisando criticamente, apesar da aparente diferença entre os filmes, todos eles tratam de uma mesma personagem: a mulher heroína que consegue ser perfeita em todos os aspectos da vida. A mulher de carreira bem-sucedida, a amante fervorosa, a estudante modelo, a amiga para todas as horas, a mãe infalível e sensível, a esposa compreensiva e companheira, a filha dos sonhos - e tudo isso com o cabelo e unhas impecáveis, roupas da última moda e salto alto, obviamente.

Dizem que nós mulheres conquistamos muito: dirigimos, votamos, trabalhamos e podemos ATÉ mostrar nosso corpo (com certo limite, claro, se não é porque você obviamente está querendo ser estuprada). Nossa! Como somos livres! Vamos agradecer à indústria e ao capitalismo cego por não nos julgar como a Igreja fez! Agora podemos ocupar as mesmas funções miseráveis que o homem em nossa sociedade! Ebaa!
Vamos confessar: nós todas já caímos nessa historinha em algum momento. Se vocês não, eu já. Não só as mulheres, mas os homens também - e talvez até já se sentiram ou sentem atraídos por esse esteriótipo da mulher infalível. O que não tem nada de errado - até que ela falhe. rsrs...

Não podemos esquecer também do esteriótipo da mulher-cio! Sim, aquelas que buscam ser o mais sexualmente irresistíveis quanto possível - e nesse poder de sedução e manipulação consistiria a mais poderosa arma do Universo (que é naturalmente, das mulheres). Tem também a mulher-prendada: cozinha, cuida da casa e de todos ao seu redor, que está ficando mais raro ou se 'fundindo' com o padrão da super-mulher. Todos esses esteriótipos parecem muito diferentes entre si, mas no fundo não um só: a mulher tendo alguma 'utilidade' para os homens ou para o sistema econômico ao qual o homem machista está submetido. Para mim, esses esteriótipos nada mais são do que uma nova maneira de machismo. Se antigamente as mulheres eram privadas de ter um relacionamento pleno por acreditar-se que isso era imoral ou espiritualmente inapropriado, hoje encontramos dificuldades porque TEMOS QUE trabalhar, TEMOS QUE estudar, e TEMOS QUE ser "independentes" de nossos maridos (atualmente somos dependentes de nossos patrões). Sinto muito, mas isso pra mim não é Feminismo.

Toda sociedade possui sua própria noção do que é o verdadeiro poder do feminino, porque toda sociedade faz conceitos e pré-conceitos sobre muitas coisas, e isso inclui o conceito de 'mulher' e de 'feminino'. Então começam as expectativas, os fios de projeções, mente alienígena e todas as consequencias disso. Mas e o NOSSO conceito? E o conceito que as próprias guerreiras criam sobre o Sagrado Feminino? Certamente não pode ser traduzido plenamente em palavras, mas elas podem pelo menos nos ajudar a nos livrar de conceitos que não queremos. Para tal, vamos espreitar por um breve momento nossa sociedade quanto a esse fator...


Em nossa sociedade, o que prevalece é mente racional. Para a mente racional, especialmente em nossa sociedade, tudo é julgado, avaliado. Sempre tiramos alguma conclusão racional sobre o ato alheio. O coração? Há! O coração é apenas um negócio pra complicar a sua vida. É “coisa de mulherzinha”. Isso ocorre de maneira mais ou menos inconsciente - para não pode ser contestada. Então quando nossos pais nos desejam um futuro promissor, seja através de independência financeira seja através de um bom casamento, é porque eles analisaram racionalmente os caminhos possíveis e concluíram baseados em conceitos rígidos e quase invisíveis o que era “melhor” e o que era “pior”. É julgando que nossa sociedade nos afasta de nossos Caminhos do Coração.
Com a supremacia da Razão e do julgamento, um segundo fator entra em jogo: a desvalorização da emotividade, da sensibilidade, da Intuição, e assim por diante. Nossa mente é condicionada a trabalhar de maneira dual ao extremo. Portanto de um lado temos o grupo “bom”: o racional, o masculino, o objetivo, os lucros,  o consumo, etc. Do outro lado, fica o grupo “ruim”: as mulheres, a emotividade, o subjetivo, a família, as perdas, o meio ambiente, etc. Essa dualidade é extremamente forte tanto em homens tanto em mulheres e provoca em nós um impulso de estarmos sempre querendo ir para o lado ‘bom’. Para o lado ‘certo’.E mesmo que esses julgamentos variem de acordo com o país, momento histórico e de pessoa pra pessoa, a dualidade faz com que sempre estejamos buscando algo, sempre inquietos, sempre insatisfeitos com nossa condição natural. Sem esse incômodo, sem essa vontade, seríamos auto-suficientes e livres (o que não é objetivo nem dos governantes, nem da maioria das pessoas, e nem dos voladores). Essa busca insaciável que poderia ser muito proveitosa caso seguíssemos nossas prioridades verdadeiras do Coração, torna-se vazia e nociva porque seguimos as prioridades que fomos ensinados a seguir. Em última análise, o processo que criou essa dualidade extrema, na verdade não foi inventado do nada, mas sim é algo inato a nós que foi bizarramente distorcido pela Mente Social. Desconfio que essa dualidade é a chave para o funcionamento correto da Mente Forânea e seus conceitos. Assim sendo, seguimos o que é “lógico”. O que é “racional”. Conceitos que infelizmente hoje em dia são sinônimos de “verdade” - consolidando a hegemonia de uma Mente falsa. Autoras como Riane Eisler, por exemplo, atribuem a essa dualidade e ao machismo o pouco caso que se faz atualmente da crise ambiental e social em que vivemos. Poucos sabem mas é a partir dessa visão que se cria a Economia Solidária, por exemplo, uma nova teoria econômica que leva esses aspectos a sério.
Dessa ótica, o Feminismo é muito mais do que 'salários e direitos iguais', mas sim uma luta contra a própria dualidade - contra a própria Mente Forânea. É a batalha que inicia o Caminho do Guerreiro. Aí entram os não-fazeres. Aí entra a loucura controlada. Aí entra a Recapitulação. Por isso que era dito que o Caminho do Guerreiro era na verdade o Caminho de econtro a nossa parte mais verdadeira.

Nas sociedades matriarcais que cultuavam à Deusa, os atributos vistos como tipicamente femininos  como Intuição, Subjetividade, ou mesmo valores que para nós não são tidos como femininos como Estratégia, Força e Inteligência, eram altamente valorizados. A valorização desses fatores por si só deixava espaço para os outros atributos, pois através de seu conhecimento silencioso sabiam que Feminino e Masculino existiam não para competirem, mas para se completarem. Com essa consciência estavam abertos os caminhos para que tanto o feminino quanto o masculino fosse devidamente honrado e celebrado. Algo muito diferente do que observamos em nossa sociedade.
Acreditava-se que a mesma força que regiam as estações e as Lua regiam também os ciclos das mulheres. Havia a consciência de que na Natureza, não há a necessidade de algo ser imediatamente "útil" para existir, como acredita a Ciência e a Racionalidade desequilibrada. Uma flor pode ter cores fortes para chamar a atenção de polinizadores, mas a 'utilidade' não explica sua exuberância e poesia. Uma montanha pode ter árvores ao seu redor para manter suas camadas exteriores fixas, mas isso não explica que ela abrigue também lindas cachoeiras. Uma mulher pode usar suas capacidades naturais para algum fim 'útil', como trabalhar para sustentar a família, mas isso por si só não explica seus talentos para passear entre os mundos, seu íntimo contato com a Terra, ou sua capacidade sem fim de compaixão ou implacabilidade totais. Não estou desvalorizando o 'útil', estou apenas querendo colocá-lo em seu devido lugar: tão importante quanto o que é 'poético', 'inspirador' ou mesmo 'repugnante' ou 'bizarro'. Uma distorção quase boba de tão simples - porém causadora de conflitos nada bobos.

Portanto minhas amigas e meus amigos, não nos conformemos com um Novo Machismo com cara de Feminismo! Não vamos permitir que reduzam nossa poderosa conexão com a Grande Mãe ser vista como uma tendência de fraqueza! Não vamos nos iludir achando que precisamos justificar em termos práticos todas as nossas Intuições, habilidades, forças ou fraquezas! Não é preciso sair por aí matando nossos chefes ou maridos, rsrs. Tudo que precisamos fazer é não acreditar neles e seguir em frente. A capacidade de não-obediência aos padrões aos quais somos forçados a seguir não é meramente um meio para nossa Liberdade, mas sim nossa Liberdade em si. Não é convencendo os outros sobre a importância dos aspectos Femininos que seremos livres, mas sim agindo em todas as esferas de nossas vidas como sem seguir as regras de um acordo do qual não participamos da formulação, conforme a herança tolteca nos lembra.

Intento! (não coincidentemente, às 22h)