quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A Força do Sutil



Olá aos caminhantes que por aqui passam,

Obedecendo aos meus ciclos naturais de expansão e retração, afastei-me um pouco de tudo. Poderia romantizar os fatos dizendo que foi devido a um processo consciente de reaproximação de mim mesma (como eu faria até pouco tempo atrás), mas isso seria mentira. Dei um tempo mental de tudo. Parei de pensar nos problemas, nas responsabilidades, nas ‘tarefas’ do Caminho. Por algumas curtas semanas não me obriguei a absolutamente nada. Nenhuma meditação, nenhuma leitura, nenhum nada. Mantive apenas os compromissos já assumidos e irrevogáveis da rotina a qual ainda estou presa. Tive um curto surto de produções artísticas – o que ao mesmo tempo que terminou de me exaurir, foi uma injeção de energia em mim. De certa forma sinto uma canalização, um forte desvio de minha energia aos meus corpos sutis. Isso é uma realidade corporal e intuitiva para mim – meu intelecto no entanto insiste em encontrar outros motivos na rotina agitada para esse meu novo comportamento. Não foi sem culpa que cessei tudo dessa forma. Remorsos por não recapitular sistematicamente, não calar o diálogo interno ao menos uma vez por dia foram sentimentos egóicos que me importunavam como mosquitos teimosos durante todos esses dias. A mente parece insistir em querer associar as práticas do Caminho ao conceito típico de “Disciplina” que temos em mente: rígidas rotinas. Ainda tenho muito a aprender a esse respeito – e mais ainda a recapitular.

Mas um assunto em especial me motivou a voltar a este espaço. Um tema não muito conhecido que gostaria de compartilhar – e como meu caminho cruzou esse assunto. Há algum atrás, enquanto recebia um treinamento muito especial sobre as 4 direções, descobri-me com um bloqueio forte na direção Leste, a direção do amanhecer, da primavera, da força do guerreiro pacífico, a brisa constante. Percebi que menosprezava, que rejeitava a força da sutileza, da leveza, da suavidade. De início não sabia de onde vinha esse bloqueio, mas me foi explicitado que sem resolvê-lo, não poderia receber mais conhecimento algum. Dias de auto-espreita se seguiram. Concluí então, baseado em minha auto-observação e outras lições preciosas que recebi do Espírito, que nossa cultura é em essência, uma cultura de violência, uma cultura em que a força bruta é valorizada e venerada, a opressão e a guerra são forças tão constantes que se quer as percebemos. Assim sendo, é natural que tenhamos uma dificuldade com as forças do Leste, uma força cujas raízes residem na Paz, nas virtudes pessoais, na honra e na suavidade. Lições que a cultura indígena é de longe muito mais entendida do assunto que nossa cultura ridícula de desejo e descarte. A lição do Leste foi para mim selada com os conhecimentos nas Artes Marciais, especialmente no Aikido, que significa literalmente o Caminho para o Conhecimento Pacífico (em uma das traduções possíveis). Nos treinos e instruções, tive a prova corporal de que a força bruta é facilmente derrotada perante a presença implacável do leve e do sutil quando corretamente direcionados. De repente me vi colocando no chão homens quase do dobro do meu tamanho e peso sem fazer uso de força, velocidade, ou mesmo de violência – apenas conduzindo corretamente minha energia vital através de meu corpo. Uma lição que passado o amargo inicial, provou-se suave e doce para mim.

Aos poucos, com a ajuda do aparecimento do meu animal aliado na direção Sul (a direção da criança interior), fui abrindo meu coração para perceber sem julgar os impactos das pequenas ações, a força do beija-flor, o poder das flores de pacificar um ambiente, o poder da comunicação pacífica e sincera, o poder de estar aberta a o que quer que seja. Poderes até então inexistentes para mim – ou não tão ‘eficientes’ quando as ‘grandes forças’ da força bruta e ferocidade, que eram as que eu mais conhecia. Juntamente a isso, houve um processo de identificar e aceitar em mim mesma partes suaves e gentis das quais eu antes me envergonhava ou ignorava. Isso na verdade foi um processo complementar a um processo anterior, em que eu fazia o oposto: aceitava e integrava em mim forças agressivas e violentas, ríspidas e ácidas em minhas personalidade.

Houve então um embate principal e descisivo. Eu poderia ter usado de minha agressividade para resolvê-la, mas decidi testar essa força que se apresentava para mim. Voando no balanço de um parquinho de crianças abandonado, com a ajuda do beija-flor, do bentivi, da borboleta, o povo em pé e do por do Sol, tomei uma decisão. Decidi que trataria a situação apenas com Amor. Um amor desapegado e sem fronteiras, não importava quantas convulsões meu Ego pudesse ter. Os resultados foram simplesmente fantásticos! De repente a Harmonia passou a reinar. A Paz passou a reinar. As feridas estavam curadas. A mudança foi tão drástica que eu mesma custei a acreditar em que meus olhos viam. Creio que muitos já vivenciaram experiências como essa, provas da força da Intuição e da gentileza (e convido-os a compartilhá-los também).
Passados alguns dias do ocorrido, lembro-me de algumas técnicas que esbarrei na vida afora... Uma sequência misteriosa de frases, que eu não me lembrava direito, mas pareciam ser muito poderosas... Alguns cliques em sites de busca e logo descobri uma filosofia inteiramente nova para mim, mas milenar para os xamãs havaianos: o Ho’oponopono. Inicialmente pode parecer uma linha desconexa com a implacabilidade dos conhecimentos toltecas, mas quando li esse texto, disponível para download na internet no site oficial mundial da filosofia, não pude deixar de traçar paralelos com a recapitulação. Segue um trecho:

 O intelecto não dispõe dos recursos para resolver problemas, ele só pode manejá-los. E manejar não resolve problemas. Ao fazer o Ho’oponopono você pede a Deus, a Divindade, o Universo, o Tudo que HÁ, a Força Superior (conforme você concebe e entende essa Força) para limpar, purificar a origem destes problemas, que são as recordações, as memórias. Você assim neutraliza a energia que você associa à determinada pessoa, lugar ou coisa. No processo esta energia é libertada e transmutada em pura luz pela Divindade. E dentro de você o espaço que foi liberado é preenchido pela luz da Divindade. Então, no Ho’oponopono não há culpa, não é necessário reviver sofrimento, não importa saber o porquê do problema, de quem é a culpa, sua origem. No momento que você nota dentro de si algum incômodo em relação a uma pessoa, ou lugar, acontecimento ou coisa, inicie o processo de limpeza, peça a Deus:

“Divindade, limpe em mim o que está contribuindo para este problema.” Então use as frases desta sequência: “Sinto muito. Me perdoe. Te amo. Sou grato.” várias vezes, você pode destacar uma que lhe toca mais naquele momento e repeti-la. Deixe sua intuição lhe guiar.
Quando você diz “Sinto muito” você reconhece que algo (não importa se saber o que) penetrou no seu sistema corpo/mente. Você quer o perdão interior pelo o que lhe trouxe aquilo.
Ao dizer “Me perdoe” você não está pedindo a Deus para te perdoar, você está pedindo a Deus para te ajudar se perdoar.
 “Te amo” transmuta a energia bloqueada (que é o problema) em energia fluindo, religa você ao Divino. Ela contém os três elementos que podem transformar qualquer coisa: gratidão – reverência – transmutação.
“Sou grato” é a sua expressão de gratidão, sua fé que tudo será resolvido para o bem maior de todos envolvidos. A partir deste momento o que acontece a seguir é determinado pela Divindade, você pode ser inspirado a tomar alguma ação, qualquer que seja, ou não. Se continuar uma dúvida, continue o processo”
[fonte: www.hooponopono.ws]

O trecho em negrito em especial muito se assemelha à ideia de ‘entregar a experiência à Águia’, e recuperar nossos filamentos de energia perdidos. Abdicamos de tentar entender as coisas racionalmente, de atribuir culpas e julgamentos e nos focamos em resolver o problema: em nos desvincilhar e transmutar a energia bloqueada a fim de recuperar nossa energia e seguirmos livres. Essas quatro frases acalmam o Ego. Não o matam, não o violentam, apenas o colocam em seu lugar natural, longe das perturbações da mente que o fazem surtar constantemente. Além disso concedem a Liberdade através do perdão verdadeiro e profundo do que quer que esteja causando o problema ou o bloqueio. É olhar para nossas feridas e dizer: não importa o que causou isso, eu vou curar, e vou curar agora. É uma proposta sem dúvida similar à Recapitulação. A única coisa que sinto falta nela é uma pitada de humor e rir de si mesmo, mas nada impede de inserirmos uma quinta frase: “Quanta bobagem!” ou algo do tipo sahusahusahusahu

Piadas à parte, experimentei esta noite uma meditação profunda com essas frases. Todos os pensamentos que me apareciam eram ‘abençoados’ com esses quatro pensamentos. Eu sentia em minha energia, blocos de energia saindo de meu peito em formatos circulares, uma maior e colada à anterior, formando uma pirâmide circular que se edificava de meu peito para cima. A sensação era de um grande peso sendo tirado de minhas costas fisicamente falando! Sentia até o ar circulando mais livremente pelo meu peito. Como resultado, após dizer a frase algumas vezes, os pensamentos não faziam mais sentido. Por exemplo, se pensava em uma pessoa da qual tenho mágoas juntamente com um sentimento de ressentimento e tristeza, após algumas repetições, eu me pegava perguntando “Nossa... Por que estou pensando nessa pessoa? Que estranho...”. A carga emocional vinculada a ela tinha sido liberada. Muito semelhante à recapitulação. Outras vezes, a imagem simplesmente sumia, e qualquer outro pensamento se recusava a se formar, atirando-me a um implacável silêncio interior! Em poucos minutos, parecia que eu estava sob efeito de alguma planta de poder. Alheia ao mundo, meio ‘lesada’, ‘brisada’, incapaz de formular qualquer pensamento racional típico.

Pretendo a partir de agora experimentar aliar os processos de recapitulação ao Ho’oponopono. Uma aliança entre dois conhecimentos ancestrais irmãos: o xamanismo tolteca, e o xamanismo havaiano. Espero poder compartilhar em breve os resultados. Independente do que sejam, descobri nessa filosofia, uma chave poderosa para liberação de bloqueios de energia emocional. Afinal, tudo vale a pena quando a alma não é pequena, não é mesmo?

Me perdoe. Sinto muito. Te amo. Sou grata. (qta bobagem! hahusahuuash)

Intento!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Dança como Portal




Sempre que me apresentava, sentia como se não fosse mais eu mesma dançando na maioria das vezes, mas sim alguma outra força que entrava em 'sintonia' absoluta comigo e eu me tornava uma espectadora de meus próprios movimentos... Às vezes era uma força mais animal, ancestral... Outras vezes era algo tão sutil e sublime que eu não conseguiria classificá-la como humana, animal, ou qualquer outra coisa do tipo...

Uma experiência em especial me marcou muito... Tdo aconteceu mto de repente. Eu vi uma apresentação simplesmente divina na sexta e recebi um convite pra dançar numa mostra no sábado. Nunca tinha apresentado uma performance de Tribal Fusion antes, não tinha nem roupa... Apesar da minha experiência com a Dança do Ventre, só havia feito 2 aulas de tribal em toda minha vida, e aprendido de forma auto-didata o resto, que não era muito. Tinha já uma idéia de duas músicas que queria dançar, e preparei duas coreografias. Fiz um mega improsivo de roupas que eu já tinha, com minhas bijouterias, com umas penas... Eu não sabia nem mesmo como iria ao evento! Não tinha carona, não tinha ônibus (era em um lugar MEGA afastado, numa chácara em uma cidade vizinha), não tinha nem CD virgem pra gravar a música! rsrs... Ainda assim pensei 'vou preparar essa coreografia e o resto o Universo se encarrega. Eu só tenho que fazê-la que o resto vai se arranjar'. A 40 min da mostra começar, ainda não tinha nenhuma confirmação de nada. Mesmo assim me mantive firme, e fui já arrumando o que precisaria pra me apresentar. Eis que sabendo de minha situação, uma grande amiga minha liga, me dizendo que conseguiu um jantar com um cara que era a fim dela para nós duas (vai vendo as idéias da mulher... sahuasuhashu) e que em seguida ele nos levaria pra mostra.Ou seja, ela se faria de interessada nele para que nós tivéssemos carona! kkkkkkkkk... (essa minha amiga tem mania de se fazer de interessada nos caras pra obter esse tipo de benefício como restaurantes, viagens, etc... Mas nunca fica de fato com eles.)
Arrumei minhas coisinhas e pela primeira vez em mto tempo, saí sem meu namorado da época, que fez uma biiirra danada pra eu não ir (não que ele fosse passar o sábado a noite comigo, lógico, mas ele prefiria saber que eu estava 'segura' em casa... ¬¬'). Ouvi todo o chororô com um sorriso de Ave Maria no rosto, a carona me esperando e o figurino na mão. Fiz um 'tchauzinho' com a mão, dei as costas e saí sem dizer uma palavra... rsrs... Parecia que naquele dia eu estava 'possuída' por alguma força extra que se encarregava de minhas ações... Fomos jantar - em outra cidade - em um restaurante chiquérrimo (o cara queria impressionar... E a minha amiga podia ser muuuuito convincente em seu teatro... sahusahusahu), e como se não fosse o bastante ainda deixou implícito que uma 'moça linda como eu' jamais deveria sair desacompanhada... ¬¬' Com uma esquiva sobrenatural e graça que só as mulheres têm, deixei claro pra ele que minha amiga era o alvo na noite, não eu. Minha amiga gostou de não ter mais concorrência em seu teatro, e finalmente após ele pagar a conta toda sozinho, ignorando meus protestos, fomos pra tal chácara.

Chegamos lá de madrugada, umas 2h da manhã. De repente uma onda de insegurança me gelou... Haviam umas 40 mulheres, dançarinas, todas trajadas impecavelmente no Tribal, conhecedoras de toda a técnica, fazendo aulas na escola que organizava o evento, todas em suas 'panelinhas' respectivas... E de repente chegava eu com minhas roupas improvisadas metida a conhecedora do assunto... Com o coração na boca, fui até à fogueira de uns 2m de altura que queimava no quintal, onde uma das dançarinas acabava de sair, após uma dança "à dois" com a fogueira, e pedi coragem ao fogo. Lá eu soube que o que estava em jogo era muito mais do que apenas uma dança... E soube qual as duas músicas dançar...

Luzes, música, ação! O suor frio, a insegurança depois de anos foras do palco, os pensamentos voladores fazendo a festa com minhas inseguranças... Até que 'bum!' a música fazia sua chamada... Todos os meus pensamentos se calaram de repente. Meu corpo simplesmente respondeu sem que eu ordenasse. Agora, ele não pertencia mais ao meu 'eu' de sempre... E eu não me preocupava em recuperá-lo... De repente não havia mais distinção entre eu, o ar que me envolvia, o Som, as luzes ou mesmo as pessoas do lugar. Lá pelo décimo segundo, eu já não era mais eu mesma. Apenas uma lembrança remota da minha essência ecoava naquele momento entre as luzes e os sons... entre as pessoas e o ar... entre o silêncio absurdo da noite e a Lua Cheia lá em cima... Eu podia tocá-la naquele momento se quisesse... Eu simplesmente me dissolvi completamente por 4 sublimes minutos... Sentia-me sob a influência de uma energia sutil, uma energia que precisava se expressar nessa realidade que vivemos, mas que precisava de um 'portal' para isso... Naqueles movimentos, eu fui aquele portal. O que restava de minha consciência se conectou com essa energia, e em uma simbiose poética, dançamos juntas... Com um corpo humano feminino disposto, essa energia podia manifestar-se. E eu com ela, por um dia, aprendi a preciosa lição da Implacabilidade nos aspectos da minha vida que mais me afugentavam para longe dos palcos naquela época... Um a um eu passava por esses obstáculos, como se eles fossem pequenas pedrinhas no chão para então recuperar uma parte preciosa perdida de mim: minha Arte.



(Peço desculpas pela falha técnica, a câmera decidiu pifar bem no meio da apresentação, e o vídeo ficou cortado...=/ )

Como resultado, obtive uma dança mediana em termos técnicos - algo que nos dias seguintes me trouxe alguma insatisfação boicotadora. Hoje vejo isso com outros olhos... Vejo que o importante foi que, naquele momento, eu senti em meu corpo, que todos que estavam ali, mesmo não entendendo de dança, como o paquera da minha amiga, e os seguranças, foram asborvidos pelo momento. Eu senti em meu íntimo que passei algo àquelas pessoas, para cada um, uma coisa, mas algo foi dito - algo de impacto - e hoje vejo que é isso que importa pra mim verdadeiramente. Creio que em algum lugar além dos egos e indústrias da Arte, seja isso que importa... E ao longo da História podemos perceber o quanto que ela se mantém resiliente, como ela ainda consegue florescer em meio à toda essa podridão que a cerca... Silenciosamente... Implacavelmente... Nos assaltando quando nos mostramos merecedores...

Após a apresentação, diversas pessoas vieram conversar comigo a respeito. Uma delas inclusive declarou ser visto um vórtex de energia descendo do céu até o palco como um furacão, e veio conversar cmg sobre a importância de resgaar o aspecto ritualístico da dança hoje em dia... Na época tudo que ela me dizia me soava completamente absurdo e papo de pirado...rsrs... Hoje no entanto recorro às palavras daquela outra dançarina quando preciso de uma força em minhas ações irracionais... E recorro às sensações daquela madrugada de Dança quando preciso me reencontrar comigo mesma...

Intento!