sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Dança como Portal




Sempre que me apresentava, sentia como se não fosse mais eu mesma dançando na maioria das vezes, mas sim alguma outra força que entrava em 'sintonia' absoluta comigo e eu me tornava uma espectadora de meus próprios movimentos... Às vezes era uma força mais animal, ancestral... Outras vezes era algo tão sutil e sublime que eu não conseguiria classificá-la como humana, animal, ou qualquer outra coisa do tipo...

Uma experiência em especial me marcou muito... Tdo aconteceu mto de repente. Eu vi uma apresentação simplesmente divina na sexta e recebi um convite pra dançar numa mostra no sábado. Nunca tinha apresentado uma performance de Tribal Fusion antes, não tinha nem roupa... Apesar da minha experiência com a Dança do Ventre, só havia feito 2 aulas de tribal em toda minha vida, e aprendido de forma auto-didata o resto, que não era muito. Tinha já uma idéia de duas músicas que queria dançar, e preparei duas coreografias. Fiz um mega improsivo de roupas que eu já tinha, com minhas bijouterias, com umas penas... Eu não sabia nem mesmo como iria ao evento! Não tinha carona, não tinha ônibus (era em um lugar MEGA afastado, numa chácara em uma cidade vizinha), não tinha nem CD virgem pra gravar a música! rsrs... Ainda assim pensei 'vou preparar essa coreografia e o resto o Universo se encarrega. Eu só tenho que fazê-la que o resto vai se arranjar'. A 40 min da mostra começar, ainda não tinha nenhuma confirmação de nada. Mesmo assim me mantive firme, e fui já arrumando o que precisaria pra me apresentar. Eis que sabendo de minha situação, uma grande amiga minha liga, me dizendo que conseguiu um jantar com um cara que era a fim dela para nós duas (vai vendo as idéias da mulher... sahuasuhashu) e que em seguida ele nos levaria pra mostra.Ou seja, ela se faria de interessada nele para que nós tivéssemos carona! kkkkkkkkk... (essa minha amiga tem mania de se fazer de interessada nos caras pra obter esse tipo de benefício como restaurantes, viagens, etc... Mas nunca fica de fato com eles.)
Arrumei minhas coisinhas e pela primeira vez em mto tempo, saí sem meu namorado da época, que fez uma biiirra danada pra eu não ir (não que ele fosse passar o sábado a noite comigo, lógico, mas ele prefiria saber que eu estava 'segura' em casa... ¬¬'). Ouvi todo o chororô com um sorriso de Ave Maria no rosto, a carona me esperando e o figurino na mão. Fiz um 'tchauzinho' com a mão, dei as costas e saí sem dizer uma palavra... rsrs... Parecia que naquele dia eu estava 'possuída' por alguma força extra que se encarregava de minhas ações... Fomos jantar - em outra cidade - em um restaurante chiquérrimo (o cara queria impressionar... E a minha amiga podia ser muuuuito convincente em seu teatro... sahusahusahu), e como se não fosse o bastante ainda deixou implícito que uma 'moça linda como eu' jamais deveria sair desacompanhada... ¬¬' Com uma esquiva sobrenatural e graça que só as mulheres têm, deixei claro pra ele que minha amiga era o alvo na noite, não eu. Minha amiga gostou de não ter mais concorrência em seu teatro, e finalmente após ele pagar a conta toda sozinho, ignorando meus protestos, fomos pra tal chácara.

Chegamos lá de madrugada, umas 2h da manhã. De repente uma onda de insegurança me gelou... Haviam umas 40 mulheres, dançarinas, todas trajadas impecavelmente no Tribal, conhecedoras de toda a técnica, fazendo aulas na escola que organizava o evento, todas em suas 'panelinhas' respectivas... E de repente chegava eu com minhas roupas improvisadas metida a conhecedora do assunto... Com o coração na boca, fui até à fogueira de uns 2m de altura que queimava no quintal, onde uma das dançarinas acabava de sair, após uma dança "à dois" com a fogueira, e pedi coragem ao fogo. Lá eu soube que o que estava em jogo era muito mais do que apenas uma dança... E soube qual as duas músicas dançar...

Luzes, música, ação! O suor frio, a insegurança depois de anos foras do palco, os pensamentos voladores fazendo a festa com minhas inseguranças... Até que 'bum!' a música fazia sua chamada... Todos os meus pensamentos se calaram de repente. Meu corpo simplesmente respondeu sem que eu ordenasse. Agora, ele não pertencia mais ao meu 'eu' de sempre... E eu não me preocupava em recuperá-lo... De repente não havia mais distinção entre eu, o ar que me envolvia, o Som, as luzes ou mesmo as pessoas do lugar. Lá pelo décimo segundo, eu já não era mais eu mesma. Apenas uma lembrança remota da minha essência ecoava naquele momento entre as luzes e os sons... entre as pessoas e o ar... entre o silêncio absurdo da noite e a Lua Cheia lá em cima... Eu podia tocá-la naquele momento se quisesse... Eu simplesmente me dissolvi completamente por 4 sublimes minutos... Sentia-me sob a influência de uma energia sutil, uma energia que precisava se expressar nessa realidade que vivemos, mas que precisava de um 'portal' para isso... Naqueles movimentos, eu fui aquele portal. O que restava de minha consciência se conectou com essa energia, e em uma simbiose poética, dançamos juntas... Com um corpo humano feminino disposto, essa energia podia manifestar-se. E eu com ela, por um dia, aprendi a preciosa lição da Implacabilidade nos aspectos da minha vida que mais me afugentavam para longe dos palcos naquela época... Um a um eu passava por esses obstáculos, como se eles fossem pequenas pedrinhas no chão para então recuperar uma parte preciosa perdida de mim: minha Arte.



(Peço desculpas pela falha técnica, a câmera decidiu pifar bem no meio da apresentação, e o vídeo ficou cortado...=/ )

Como resultado, obtive uma dança mediana em termos técnicos - algo que nos dias seguintes me trouxe alguma insatisfação boicotadora. Hoje vejo isso com outros olhos... Vejo que o importante foi que, naquele momento, eu senti em meu corpo, que todos que estavam ali, mesmo não entendendo de dança, como o paquera da minha amiga, e os seguranças, foram asborvidos pelo momento. Eu senti em meu íntimo que passei algo àquelas pessoas, para cada um, uma coisa, mas algo foi dito - algo de impacto - e hoje vejo que é isso que importa pra mim verdadeiramente. Creio que em algum lugar além dos egos e indústrias da Arte, seja isso que importa... E ao longo da História podemos perceber o quanto que ela se mantém resiliente, como ela ainda consegue florescer em meio à toda essa podridão que a cerca... Silenciosamente... Implacavelmente... Nos assaltando quando nos mostramos merecedores...

Após a apresentação, diversas pessoas vieram conversar comigo a respeito. Uma delas inclusive declarou ser visto um vórtex de energia descendo do céu até o palco como um furacão, e veio conversar cmg sobre a importância de resgaar o aspecto ritualístico da dança hoje em dia... Na época tudo que ela me dizia me soava completamente absurdo e papo de pirado...rsrs... Hoje no entanto recorro às palavras daquela outra dançarina quando preciso de uma força em minhas ações irracionais... E recorro às sensações daquela madrugada de Dança quando preciso me reencontrar comigo mesma...

Intento!

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