terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Novo Machismo e a Antiga Deusa



A questão do Sagrado Feminino me persguiu por uns dias, há uma semana atrás. Como exemplo - além da vida prática - assisti dois filmes: "Não sei como ela consegue" e "Qualquer gato vira-lata. O primeiro, hollywoodiano, estrelando Sarah Jessica Parker, protagonista também de Sex and the City,  que é em resumo um seriado sobre sexo, Nova Yorque, e sapatos. No segundo filme, "Qualquer gato vira-lata", Cléo Pires interpreta uma mulher que "tem tudo pra dar certo na vida": linda, inteligente, trabalhora, estudiosa - mas não consegue arrumar seu relacionamento. A personagem interpretada é o esteriótipo extremo de uma mulher disponível e sem senso de auto-estima. No segundo filme, aparentemente muito diferente, a protagonista é uma mãe de dois filhos + advogada bem-sucedidade de um grande escritório em NY + esposa + membro do conselho de pais e mães da escolinha das crianças ( e em todas as funções ela busca a perfeição a todo instante). Em nenhum dos casos o filme fala sobre machismo. Na verdade, fazem de conta que ele nem existe. Porém analisando criticamente, apesar da aparente diferença entre os filmes, todos eles tratam de uma mesma personagem: a mulher heroína que consegue ser perfeita em todos os aspectos da vida. A mulher de carreira bem-sucedida, a amante fervorosa, a estudante modelo, a amiga para todas as horas, a mãe infalível e sensível, a esposa compreensiva e companheira, a filha dos sonhos - e tudo isso com o cabelo e unhas impecáveis, roupas da última moda e salto alto, obviamente.

Dizem que nós mulheres conquistamos muito: dirigimos, votamos, trabalhamos e podemos ATÉ mostrar nosso corpo (com certo limite, claro, se não é porque você obviamente está querendo ser estuprada). Nossa! Como somos livres! Vamos agradecer à indústria e ao capitalismo cego por não nos julgar como a Igreja fez! Agora podemos ocupar as mesmas funções miseráveis que o homem em nossa sociedade! Ebaa!
Vamos confessar: nós todas já caímos nessa historinha em algum momento. Se vocês não, eu já. Não só as mulheres, mas os homens também - e talvez até já se sentiram ou sentem atraídos por esse esteriótipo da mulher infalível. O que não tem nada de errado - até que ela falhe. rsrs...

Não podemos esquecer também do esteriótipo da mulher-cio! Sim, aquelas que buscam ser o mais sexualmente irresistíveis quanto possível - e nesse poder de sedução e manipulação consistiria a mais poderosa arma do Universo (que é naturalmente, das mulheres). Tem também a mulher-prendada: cozinha, cuida da casa e de todos ao seu redor, que está ficando mais raro ou se 'fundindo' com o padrão da super-mulher. Todos esses esteriótipos parecem muito diferentes entre si, mas no fundo não um só: a mulher tendo alguma 'utilidade' para os homens ou para o sistema econômico ao qual o homem machista está submetido. Para mim, esses esteriótipos nada mais são do que uma nova maneira de machismo. Se antigamente as mulheres eram privadas de ter um relacionamento pleno por acreditar-se que isso era imoral ou espiritualmente inapropriado, hoje encontramos dificuldades porque TEMOS QUE trabalhar, TEMOS QUE estudar, e TEMOS QUE ser "independentes" de nossos maridos (atualmente somos dependentes de nossos patrões). Sinto muito, mas isso pra mim não é Feminismo.

Toda sociedade possui sua própria noção do que é o verdadeiro poder do feminino, porque toda sociedade faz conceitos e pré-conceitos sobre muitas coisas, e isso inclui o conceito de 'mulher' e de 'feminino'. Então começam as expectativas, os fios de projeções, mente alienígena e todas as consequencias disso. Mas e o NOSSO conceito? E o conceito que as próprias guerreiras criam sobre o Sagrado Feminino? Certamente não pode ser traduzido plenamente em palavras, mas elas podem pelo menos nos ajudar a nos livrar de conceitos que não queremos. Para tal, vamos espreitar por um breve momento nossa sociedade quanto a esse fator...


Em nossa sociedade, o que prevalece é mente racional. Para a mente racional, especialmente em nossa sociedade, tudo é julgado, avaliado. Sempre tiramos alguma conclusão racional sobre o ato alheio. O coração? Há! O coração é apenas um negócio pra complicar a sua vida. É “coisa de mulherzinha”. Isso ocorre de maneira mais ou menos inconsciente - para não pode ser contestada. Então quando nossos pais nos desejam um futuro promissor, seja através de independência financeira seja através de um bom casamento, é porque eles analisaram racionalmente os caminhos possíveis e concluíram baseados em conceitos rígidos e quase invisíveis o que era “melhor” e o que era “pior”. É julgando que nossa sociedade nos afasta de nossos Caminhos do Coração.
Com a supremacia da Razão e do julgamento, um segundo fator entra em jogo: a desvalorização da emotividade, da sensibilidade, da Intuição, e assim por diante. Nossa mente é condicionada a trabalhar de maneira dual ao extremo. Portanto de um lado temos o grupo “bom”: o racional, o masculino, o objetivo, os lucros,  o consumo, etc. Do outro lado, fica o grupo “ruim”: as mulheres, a emotividade, o subjetivo, a família, as perdas, o meio ambiente, etc. Essa dualidade é extremamente forte tanto em homens tanto em mulheres e provoca em nós um impulso de estarmos sempre querendo ir para o lado ‘bom’. Para o lado ‘certo’.E mesmo que esses julgamentos variem de acordo com o país, momento histórico e de pessoa pra pessoa, a dualidade faz com que sempre estejamos buscando algo, sempre inquietos, sempre insatisfeitos com nossa condição natural. Sem esse incômodo, sem essa vontade, seríamos auto-suficientes e livres (o que não é objetivo nem dos governantes, nem da maioria das pessoas, e nem dos voladores). Essa busca insaciável que poderia ser muito proveitosa caso seguíssemos nossas prioridades verdadeiras do Coração, torna-se vazia e nociva porque seguimos as prioridades que fomos ensinados a seguir. Em última análise, o processo que criou essa dualidade extrema, na verdade não foi inventado do nada, mas sim é algo inato a nós que foi bizarramente distorcido pela Mente Social. Desconfio que essa dualidade é a chave para o funcionamento correto da Mente Forânea e seus conceitos. Assim sendo, seguimos o que é “lógico”. O que é “racional”. Conceitos que infelizmente hoje em dia são sinônimos de “verdade” - consolidando a hegemonia de uma Mente falsa. Autoras como Riane Eisler, por exemplo, atribuem a essa dualidade e ao machismo o pouco caso que se faz atualmente da crise ambiental e social em que vivemos. Poucos sabem mas é a partir dessa visão que se cria a Economia Solidária, por exemplo, uma nova teoria econômica que leva esses aspectos a sério.
Dessa ótica, o Feminismo é muito mais do que 'salários e direitos iguais', mas sim uma luta contra a própria dualidade - contra a própria Mente Forânea. É a batalha que inicia o Caminho do Guerreiro. Aí entram os não-fazeres. Aí entra a loucura controlada. Aí entra a Recapitulação. Por isso que era dito que o Caminho do Guerreiro era na verdade o Caminho de econtro a nossa parte mais verdadeira.

Nas sociedades matriarcais que cultuavam à Deusa, os atributos vistos como tipicamente femininos  como Intuição, Subjetividade, ou mesmo valores que para nós não são tidos como femininos como Estratégia, Força e Inteligência, eram altamente valorizados. A valorização desses fatores por si só deixava espaço para os outros atributos, pois através de seu conhecimento silencioso sabiam que Feminino e Masculino existiam não para competirem, mas para se completarem. Com essa consciência estavam abertos os caminhos para que tanto o feminino quanto o masculino fosse devidamente honrado e celebrado. Algo muito diferente do que observamos em nossa sociedade.
Acreditava-se que a mesma força que regiam as estações e as Lua regiam também os ciclos das mulheres. Havia a consciência de que na Natureza, não há a necessidade de algo ser imediatamente "útil" para existir, como acredita a Ciência e a Racionalidade desequilibrada. Uma flor pode ter cores fortes para chamar a atenção de polinizadores, mas a 'utilidade' não explica sua exuberância e poesia. Uma montanha pode ter árvores ao seu redor para manter suas camadas exteriores fixas, mas isso não explica que ela abrigue também lindas cachoeiras. Uma mulher pode usar suas capacidades naturais para algum fim 'útil', como trabalhar para sustentar a família, mas isso por si só não explica seus talentos para passear entre os mundos, seu íntimo contato com a Terra, ou sua capacidade sem fim de compaixão ou implacabilidade totais. Não estou desvalorizando o 'útil', estou apenas querendo colocá-lo em seu devido lugar: tão importante quanto o que é 'poético', 'inspirador' ou mesmo 'repugnante' ou 'bizarro'. Uma distorção quase boba de tão simples - porém causadora de conflitos nada bobos.

Portanto minhas amigas e meus amigos, não nos conformemos com um Novo Machismo com cara de Feminismo! Não vamos permitir que reduzam nossa poderosa conexão com a Grande Mãe ser vista como uma tendência de fraqueza! Não vamos nos iludir achando que precisamos justificar em termos práticos todas as nossas Intuições, habilidades, forças ou fraquezas! Não é preciso sair por aí matando nossos chefes ou maridos, rsrs. Tudo que precisamos fazer é não acreditar neles e seguir em frente. A capacidade de não-obediência aos padrões aos quais somos forçados a seguir não é meramente um meio para nossa Liberdade, mas sim nossa Liberdade em si. Não é convencendo os outros sobre a importância dos aspectos Femininos que seremos livres, mas sim agindo em todas as esferas de nossas vidas como sem seguir as regras de um acordo do qual não participamos da formulação, conforme a herança tolteca nos lembra.

Intento! (não coincidentemente, às 22h)

Um comentário:

  1. OI Jessica! muito boa tua observação! você é uma ótima espreitadora!(rsrs). Não coincidentemente é porque 2+2=4 ?
    As mulheres que estão nessa corrida desesperada, estão adoecendo. Vivem à base de comprimidos para dor de cabeça, e entram em depressão por causa dessa violência a que se submetem. conicidentemente às 1:30

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